domingo, 9 de maio de 2010

Equação quase resolvida



Cada vez mais preciso de ação. Cada vez mais preciso do silêncio. Cada vez mais preciso agir. Cada vez mais corro da multidão. Cada vez mais preciso da unidade, mas a divisão manifesta seu nome. O circulo cada vez mais se fecha.
Estou exposto. Eu me coloquei exposto.
Faço as contas: somo alguns pensamentos, subtraio algumas filosofias, divido alguns conceitos e os resultados são sempre alguns padrões.
Engraçado como essas contas sempre dão resultados exatos.
O circulo está se fechando porque ele existe e é natural tudo que existe ter um movimento. Mas o circulo existe porque existe um centro.
Se eu eliminar o centro, o circulo deixa de existir e assim, automaticamente, ele deixa de fechar.
Bimba! Equação resolvida.
Nem tanto, ainda não. Um detalhe: para eliminar o centro é preciso saber como ele surge.
Ele está lá porque eu estou a observá-lo. Se eu não estiver mais lá, será que ele deixa de existir?
Bom, pelos para mim vai deixar e, no momento, nessa conta, não existe outra ser se não eu. Será?
Pois se o centro não existir é porque não existe o observador.
Se não existe o observador não existe EU.

Resultado: equação quase resolvida.



quarta-feira, 21 de abril de 2010

A menina e seus vestidos.


Um dia a pequena menina, vestida de lágrimas, sonhou em voar.
Ser amante do vento, brincar com a brisa. Queria encontrar o entendimento da vida.
Pensou que sendo anjo poderia saltar e assim, com apenas um sopro, toda sua dor sarar.
A pequena menina não respirava, apenas soluçava.
Sentada em sua sala, esperava pelo último fôlego, aquele que decidiria.
E depois, lá de baixo, olhando para o alto procuraria o alívio de sua ação tomada em um momento de susto.
Mas uma voz miudinha dizia de algum lugar apertado:
- Troque o vestido menina.
Olhando o horizonte servia-se de um copo de culpa, beliscava em um prato a família e, jogados aos seus pés, sobrava algumas migalhas de sua vida.
- Troque o vestido menina.
Saindo talvez do intestino, como gente que pede socorro debaixo de escombros, a voz novamente surgia. Mas ela mal escutava. A pequena menina estava embriaga de sonho. Queria dançar sem peso para segurar, deixar suas cordas e saltar, voltar a sorrir e não ter ninguém para cuidar.
De repente, o carpete da sala era uma estrada; a sacada, altar e o parapeito, um Deus lindo e meticuloso.
Ela só queria subir em seu Deus e pular, virar estrela. Pensando assim em se salvar e quem sabe com esse mergulho profundo, encontrar o que tanto procurava.
E agora, de pé no parapeito da sacada, estava prestes a entregar seus sonhos ao vento. Antes, ensaiava alguns passos de balé iguais aos da infância - imagens de uma criança vestida de sorrisos era o filme que passava.
Momentos onde a única corda era a do balanço que, ela mal sabia, era o cupido do seu namoro com o vento.
- Pequena menina vestida de lágrimas, feche os olhos e volte para casa.
E agora parada ali no parapeito de seu apartamento, sentia seu coração pulsar. Lembrava daquele moço que ela tinha vontade de beijar e, algumas gotas no seu vestido, começaram a secar. Olhando ao redor percebeu que não tinha ninguém querendo pular.
Mas era a hora. Precisava tomar coragem. Tinha quase certeza que esse desfecho seria melhor.
Antes, olhou alguns de seus vestidos antigos jogado ao chão: o amarelinho raio de sol, o azul de desbotado sorriso, um vermelhinho com paixão escondida atrás do abajur, tinha até um carinhoso rosa bebê amuado no sofá.
Algumas vozes lá embaixo já diziam: Vem pequena menina, aqui temos o vestido rejeitado.
Ela pensou. Sentiu e decidiu.
Jogou-se. O tempo parou. Ele deu uma pausa para a ação da menina.
E ela acordou, levantou da cama, foi diante do espelho e se viu desnuda.
Sentiu-se completa.
Foi até a cozinha, preparou o café, levou até a sacada e ali flertou com a manhã. Contando-lhe histórias de uma tarde nublada, onde um vestido chorava no corpo de uma falecida menina.

domingo, 4 de abril de 2010

São Petersburgo, 1670


Naquela tarde andei porque foi preciso. Andei porque não sabia que poderia parar.


E enquanto eu andava fiquei observando as formas de como nossas histórias eram perpetuadas, percebi as nuvens que atravessavam nossos caminhos, elas traziam junto de si todo seu frescor, mas também a neblina.
Eu não poderia dizer algo possível de ser dito? Fiquei ali, sentindo.
Sabe, eu poderia ter ido embora a qualquer momento. Quero dizer não o que eu era de verdade, mas sim a parte que você acreditava. Essa sim era mutável, automática. Lembro que seu compromisso era o de ir e vir, sempre.
Isso vem de muito longe, sempre foi assim e não mudará; pelo menos não isso.
Agora ao contrario de antes sinto que o momento pode ser agora, não quero perder o tempo com as sobras.
Existo, mas isso não me basta mais.
Os códigos estão trocados e isso nos faz pensar que estamos vivendo.
Muitos sobrevivem, alguns existem e poucos vivem essa é a verdade.
É preciso escolher. Qual foi a sua escolha?
Pois a minha já foi feita, mesmo eu sabendo que ela já estava pronta, só esperando eu acordar.
Você também pode escolher não escolher.
Isso é fato, isso existe, isso é livre-arbítrio, você pode.
Também sei que posso me enganar com a minha própria escolha, mas assumo pagar o preço desse risco, Alias, já está parcelado.
E você? Assume o seu risco? Mesmo o de não fazer nada?
As coisas não são como parecem ser. Não estou lhe colocando contra uma parede, pelo contrário, estou lhe dando a opção maior: podemos abrir os olhos quando estivermos andando.
Pois se as cores estão aí, por que ficar só no cinza? Não que o cinza não tenha o seu valor, mas podemos mais.
Qual é a cor da sua nuvem, da sua neblina? Você viu a nuvem hoje?
Naquela tarde eu vi as duas e elas não eram diferentes como demonstravam ser.
Foi através delas que enxerguei esse emaranhado de conexões que existe em tudo e como me identificava assumindo umas, descartando outras, refazendo algumas.
E é por isso que resolvi fazer a escolha. Uma hora ou outra isso iria acontecer, eu sei.
Consigo ver isso perante os meus relâmpagos de consciência.
Eu sinto, às vezes como uma interferência, outras com clareza.
Talvez seja ainda, pedaços de uma outra conexão querendo ser refeita, religada, restabelecida, talvez.
Talvez quando eu puder dar a resposta a isso, não seja mais eu.
Posso ir embora a qualquer momento, isso está dentro da escolha.
É bem possível que quando eu tiver a resposta, a pergunta já não exista mais, é bem possível.
Você também está diante de um abismo que ao mesmo tempo lhe dá medo e uma imensa vontade de saltar. Espere a neblina passar e você verá.
Quem sabe podemos juntos reinventar algumas conexões? Ou mesmo desfazê-las.  Na verdade o objetivo é o que menos importa, se é que você me entende.
Mas venha logo, se esse é o meu momento, agora é o seu também.
Talvez tenha que me esperar um pouco, pode acontecer de me encontrar entre uma sessão e outra, coisa rápida, são apenas alguns eletrochoques.
A minha atual casa você sabe, tem o codinome: Hospício.
Foi para cá que me trouxeram, quando resolvi escolher.
Mas não se espante com o estado que me encontrar, não se deixe levar pelas aparências.
Afinal, faz um bom tempo que não nos vemos e depois daquela tarde, muitas coisas mudaram.
Se você conseguir observar bem, não estarei diferente das pessoas que andam pelas ruas, achando que seus olhos estão abertos.

Não, existe sim uma diferença: elas estão bem vestidas...




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quinta-feira, 4 de março de 2010

Uma conversa com a minha sombra ou (a Dualidade)


Quando estou aqui pensando tudo passa na minha pequena cabeça.

Quantas coisas a fazer, quantas coisas a deixar de fazer; vontades, desejos, realizações.

Para que serve tudo isso? Se quando as realizo (aquelas que são possíveis) a satisfação é uma coisa tão frágil que costuma se quebrar ao primeiro perder do olhar.

É para isso que servem os sonhos? Para correr atrás deles, realizá-los e depois aguardar o vazio, a sensação de voltar ao início sempre? Só mudam as caras.

Mas o mundo aí fora segue assim: a multidão faz isso, vende isso, compra isso, assiste isso. Será que existe alguma verdade nisso? Será?

Eu faço parte da multidão, então tenho que seguí-la, mesmo me achando deslocado dela.

O caminho solitário é mesmo sozinho?

Se a vida quer que eu a siga assim, por que ela me permitiu encontrar uma lacuna em tudo isso? Por que, hein? Por quê?

Aceitar seria o caminho; pelo menos é assim que dizem os mestres.

Mas aceitar o quê? Aceitar o filho da puta que não aceita o meu direito de ser do jeito que sou?

Como seria bom se cada um tomasse conta da sua própria vida! Talvez seja isso o paraíso, hahahahaha.

É, às vezes o caminho da espiritualidade deveria ser mais concreto do que efêmero.

Com Alberto Caeiro aprendo que a diferença está na natureza e não nas cousas. Com meu amigo Quintana, a saída é amar o cotidiano. Já com Clarice, não tem jeito, a coisa é triste mesmo, mas com muita poesia.

Ah, é isso aí. Precisa de um pouco de poesia para sentir verdadeiramente essa vida.

Às vezes me pergunto: Será que o melhor é viver a vida sem razão nenhuma e seguir com sentimentos descontrolados, se enfiando até o talo em tudo que aparece, mas pagar o preço, às vezes caro de sangrar, se machucar grave, mas pelo menos estar íntegro, nem que seja em uma experiência de merda? -
E olha que já vi muitas pessoas fazendo isso. Quantos artistas! Será que isso os deixa mais artistas do que os outros? Será?

A outra opção seria assistir a tudo isso, como uma imagem estática, neutra,
deixando as coisas apenas passarem, sem intrometer, sem interromper. O tal “observar”.

Mas com o preço que às vezes... pode dar aquela sensação de não estar vivenciando nada, sabe?

Parece que o ser humano está muito acostumado com a movimentação, com o opinar, com o julgar, com se enfiar, etc, etc, etc. E o não movimento parece ser uma coisa de outro mundo.

Não me venha com a tal historinha do caminho do meio, que eu vou mandar você tomar no cú. Pois, quando o calo aperta, a única coisa que passa na mente é fechar os punhos e dar um belo soco naquele cara chamado Deus, ou na primeira pessoa que te olhar torto, pois esse é a semelhança daquele. E o primeiro, é difícil de encontrar.

Quantas historinhas, quantas! Você poderia parar de me contar histórias, por favor?! Que eu não agüento mais! Já basta eu e a minha cabeça!

Você está certo em dizer que eu só trouxe questionamentos, mas de qualquer forma, eu não tenho nenhuma resposta.

Para a minha imagem não ficar de um arrogante, vamos fazer um combinado? Tu ficas com a tua verdade e eu com a minha. Assim quem sabe não salvamos o mundo. Mas quem foi mesmo o infeliz que enfiou na minha cabeça que o mundo está querendo ser salvo? Quem?





fonte foto:http://br.olhares.com/dualidade_foto2726563.html

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Aroma


Para você é esse poema
Que de mansinho foi chegando.
Menina meiga com ar de meretriz.
Ah! Como isso me encanta.

Essa boca que me inspira pecado
Onde em meus sonhos acordados,
Já fui teu rei e escravo.
Lábios atrevidos que me deixam louco e safado.

Vejo-me preso dentro dessa armadilha.
Quadril que se movimenta com tamanha maestria
De quem sabe provocar sem vulgarizar.

Meu desejo de homem implora para entrar.
Peço licença, pois quero te visitar.
Conhecer teus encantos, fazer de sua pele minha morada.
Despi-la como se despe uma brisa.

Dançar e beijar teu corpo até a lua nos deixar.
Tornar no agora o que em sonho me excita.
Em nosso suor e sussurros sentir seu sexo como és:
Uma obra prima

E depois quando a primeira luz do dia aparecer,
Trazendo de carona a despedida,
Deixo a promessa já comprida:
Caso meu perfume em seu corpo secar,
Trago mais uma vez a fragrância assim que a noite acordar.

foto: http://br.olhares.com/estudo_do_pixel_em_low_key_foto3373888.html

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

TU QUIERES SABER



TU QUIERES SABER, LO QUE TODO EL MUNDO YA HABLA.
TU QUIERES PREGUNTAR LO QUE TODOS YA DICEN
TU NO NECESITAS DE ESO
TU NO NECESITAS DE ESO

SIGA DIFERENTE, PUES ESE CAMINO ES CONOCIDO
TODOS YA FUERON POR ALLI Y CONTINUAN YENDO
TEN CORAJE Y VAYA EN FRENTE
REME, REME SIN MIRAR

LA VERDAD ESTA ANTE TUS OJOS
MUCHOS ESTAN CAYENDO, PORQUE NO CALLAN
EL SILENCIO ES UNA ELECCIÓN
SIENTA LO QUE ERES TU, SIENTA LO QUE ERES TU.


TU QUIERES SABER, LO QUE TODO EL MUNDO YA HABLA.
TU QUIERES PREGUNTAR LO QUE TODOS YA DICEN
TU NO NECESITAS DE ESO
TU NO NECESITAS DE ESO



AHORA LAS COSAS PARECEN CONFUSAS
PERO ES UN MOMENTO DE TRANSICIÓN
ESE HABLAR YA NO CABE EN ESA BOCA
LAS PALABRAS ESTAN PESADAS

TODAS LAS RESPUESTAS FUERON DADAS
TODOS SABEN TODO, PERO SIN COMPRENCIÓN
Y TU TODAVIA QUIERES PREGUNTAR?
Y TU TODAVIA QUIERES HACER PARTE DE ESO?

EL SILENCIO Y EL HABLAR SON ELECCIONES
LLEGO LA HORA DE DECIDIR, REME
YA CONOCEMOS LOS CAMINOS, REME
REME Y SIENTA LO QUE TU ERES.

TU QUIERES SABER, LO QUE TODO EL MUNDO YA HABLA.
TU QUIERES PREGUNTAR LO QUE TODOS YA DICEN
TU NO NECESITAS DE ESO
TU NO NECESITAS DE ESO







foto: http://br.olhares.com/a_humanidade_de_costas_foto2023998.html

terça-feira, 24 de novembro de 2009

UM CONTO QUASE RELIGIOSO


Quando ele poderia ter pensado que exatamente naquela noite teria uma experiência digamos... no mínimo... diferente? Afinal era mais uma festa como qualquer outra e, nela, ele se divertia como normalmente se faz: bebia, flertava, dançava.
Pelas tantas da noite, por razões totalmente naturais e biológicas, resolveu ir ao banheiro.
E ao entrar no banheiro ele viu uma imagem refletida no espelho: um corpo ao meio, virado de costas, imóvel, vestido com uma camisa branca. E lá mesmo no banheiro, ele sentiu o grito sucumbir na sua garganta. Viu que a própria morte estava ali e, com toda certeza, ela o levaria para o desconhecido. Pressentiu que passaria o maior desespero de sua vida. Ficou congelado, com as mãos presas à pia e os olhos estalados no espelho.
Após um tempo aprisionado naquela agonia, seus gritos saltaram de dentro de sua boca. Sentiu como se seu corpo estivesse sendo rasgado por uma navalha. E como um louco abriu a porta, caindo na sala, onde as pessoas estavam em festa e não entenderam nada ao se depararem com aquele sujeito aos berros.
Ele pedia com todo seu desespero para tirarem aquilo dali. Parecia um cão raivoso girando e pulando com os pelos ateados fogo.
Aquela imagem que se apresentava de costas e não mostrava o rosto, que somente ele via, o perseguia.
Ele uivava e sentia o peso de um trator em suas costas. Seus músculos contorciam como se dez cavalos o puxassem. Seus braços esticavam e seu dorso inclinava com uma intensidade que ele não controlava.
As pessoas na sala assistiam passivas àquela cena, enquanto folhas de louro caiam do teto.
Uma mulher negra o observava com um olhar diferente - atenta e cuidadosa.
Um sofá vermelho, pessoas espalhadas em uma sala branca de um apartamento, uma mulher negra e um espectro imóvel de costas, essa era a imagem que girava em seus olhos. E como que por um instinto natural, ele caiu de joelhos em frente daquela mulher.
Seu corpo implorava por ajuda. Sentia-se dominado por uma força que não conhecia.
A energia daquela coisa de costas e meio corpo que não mostrava o rosto ainda o assombrava.
Segurando suas mãos a mulher comunicou a ele:

- É Gabriel que vem depositar sua espada em suas costas. Ele vem para protegê-lo.

Após dizer isso, ela depositou folhas de louro em suas mãos e cabeça.
Ele sentiu seu corpo querendo se livrar daquela tensão, mas o medo ainda envolvia a sua pele.
Um pouco mais lúcido, conseguiu balbuciar algumas palavras:

- É... preciso... rezar.

E assim, convidou todos para uma prece.
A mulher negra que estava em sua frente pediu para mudarem de lugar.
Agora, sentado de costas para aquela imagem, ele sentiu-se melhor. Em silêncio sua prece foi feita.
Foi então que ele percebeu que todos ali também estavam vestidos de branco.

E nem mesmo hoje, ele sabe dizer ao certo o que foi tudo aquilo.


Foto: http://br.olhares.com/um_espelho_de_mim_mesma_foto520233.html

terça-feira, 17 de novembro de 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Histórias de quintal contadas na varanda



Naquela casa de paredes largas e teto baixo, o rápido se tornou útil.
Na varanda onde a brisa da manhã tem gosto de café morno, o ritmo segue como se pede.
E no agora, o movimento vem de fora. (Quintal de barro).
Quero escrever, mas nada parece ser.
Na minha mente apenas lençóis ao vento. Pontinhos espalhados procurando o seu eixo.
Demonstrações variadas, talvez, de uma estrada perdida.

Penso: uma compreensão é necessária para não se deslocar em vão.

Então, de repente, um salto entre um ponto e outro; sem distâncias entre si. Vejo. Diante de mim a complexidade do crescimento, a plenitude da sabedoria e a impaciência de se estar no meio.
Tudo está ali a poucos metros do meu alcance. Cada qual no seu canto.
Uma pergunta começa a pairar. Se algo permanece e nada muda, quem é esse ser que envelhece e que uma vez foi criança brincando?
Agora, em seus pequenos e curtos passos se desloca até um banco de praça como se fosse aquele menino de antes, na descoberta de um equilíbrio ao colocar um pé após o outro.
Histórias de quintal contadas em varandas.
O tempo se abre, se fragmenta em espasmos alongados. O meio não vê o da direita não sente e o da esquerda perambula.
Não há pré-ocupação.
Talvez apenas respirar, mas isso é...
Sinto saudades, mas saudades e momentos são como nuvens que no céu conta histórias através de suas formas.
Quem sabe entre um desenho e outro se abra uma lacuna onde o tempo pare e realmente se mostre de fato, sem mentiras ou anedotas.
Talvez esse homem saiba agora o que tanto se perguntou. Quem sabe suas respostas tenham pontos finais.
Talvez, ou pelo menos, mesmo sem suas respostas, sente que elas se apresentarão a qualquer instante.
Deve ser por isso a não pressa no seu caminhar, no seu sentar, no seu respirar.
Encostado em um banco de praça, observa diante de seus olhos toda a velocidade do silêncio da vida. Percebe o seu ser homem se dissolvendo, partindo.
E o que para seus olhos era observado se torna percepção.
Ali naquele banco, em um lugar onde o tempo se perdeu, o homem se encontrou.
Deixou de existir, não ocupa mais nenhum espaço, nenhum canto, mesmo ali sentado em um banco de praça.
E na varanda o ritmo continua como se pede. Lá tem janelas que agora querem se fechar, mas só as cortinas obedecem.
E naquela casa onde a criança brincando se tornou homem, que andando se tornou velho e que sentado desapareceu, lá, em seu quintal de barro, nada, nada mudará.



Foto: http://br.olhares.com/

domingo, 27 de setembro de 2009


Vivemos nos dois de lembranças
O medo do presente nos deixa sem fôlego
O querer é um ator tomado, inconsciente, mas libertador e vivo em sua entrega.
Pela escrita vou onde meu coração quer e o corpo suplica, ela me liberta da covardia que carrego na mente.
Suprimo meus desejos em folha branca com tintas vermelhas.
Transpiro, pois minha transpiração são letras soltas que escrevo no corpo. O resultado é um conto bem tocado.
Palavras que agora tem o doce gosto do suspiro e o amargo da espera cintilam reações ao qual não controlo, o que me resta é a prece.
Minha reza tem cheiro, gosto, saliva.
Ela prega um celibato ao inverso.
Somos pastores de uma anti-religião ao qual a esse mundo não pertence.
Ela acredita na matéria, na matéria de nossos corpos e na música que surge, quando a reza é completa.
Uni-vos esse é o único provérbio.
Não existe busca, existe entrega.
Vejo pontos de reticências à espera de uma nova linha.
Por isso o corpo que é folha, tem que querer ser escrito.


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terça-feira, 15 de setembro de 2009

Dois idiomas a caminho de uma escrita



Faltava apenas duas semanas para minha viagem. Destino: Espanha. A tão sonhada volta. Um reencontro me esperava. Cinco anos de relação e um de distância. Saudades que apertavam o coração. Lembranças de momentos guardados em fotografia.
Desde o início sabíamos que nossas promessas seriam cumpridas. O sonho de compartilharmos algo juntos estava muito perto, exatamente há algumas horas. Foi válida tamanha paciência.
Aqui no Brasil, apenas algumas papeladas finais. Despedidas de amigos e alguns familiares, que não são muitos. Essa é a vantagem de ser uma pessoa mais reservada.
Vender algumas coisas e, claro, as malas. Mas para isso ainda havia tempo.
Precisava finalizar um último trabalho, afinal, uma graninha extra para viagem caia bem.
País novo, novos trabalhos, nova vida, relacionamento antigo, medo!
Nesta sexta-feira à noite, enquanto estava conferindo alguns documentos, o telefone tocou. Atendi. Algo aconteceu na minha percepção de espaço-tempo. Comecei a sentir um frio estranho que vinha do centro de minha barriga e que aos poucos começava a se espalhar para todo o corpo.
Sentei, pois não agüentava meu próprio peso.
Vejo a imagem de um avião decolando e eu no meio da pista em pé. Escuto ao longe uma voz dizendo meu nome, então sou puxado da pista para o sofá da minha sala com o telefone nas mãos.

- Papai sofreu um derrame, está em coma!

Desligo o telefone. Faço três ligações: Espanha, aeroporto e um táxi. No caminho do hospital sinto. Apenas sinto tudo. Tudo em dois idiomas.

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quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Vinho Francês


Clara é mais uma de tantas mulheres que vive em seu mundo paralelo criado para suprir as necessidades que à sua pseudo-realidade não convém.
Clara poderia ter entre seus 28 a 30 anos, morena, olhos cor de amêndoas, uma estatura perfeita: nem alta nem baixa. Trabalha em qualquer uma dessas profissões liberais. Sempre dona de seu nariz, desde cedo se bancou em todos os sentidos. Uma mulher digamos... independente, batalhadora, durona.
Clara já é mãe, mas de outros casamentos. Talvez por essas antigas experiências, tenha se decidido por uma relação um pouco diferente. Talvez. Isso é uma hipótese.
Mantém um relacionamento já alguns anos com seu namorado-marido, isso porque não dividem o mesmo espaço sempre. Uma relação de muita paixão como todas, principalmente no inicio como todas são, claro. Seu namorado-marido também trabalha em mais uma dessas profissões liberais.
Mas agora, após alguns anos de relação, Clara se sente um pouco confusa. Algumas imagens e vontades de um passado perturbam sua mente. Sabe
aqueles momentos onde o inconsciente e o consciente dialogam com bate-papos em uma esquina? Aquelas lembranças antigas não paravam de cutucá-la na calada da madrugada, nos momentos solitários.
Ah! Não posso deixar de dizer que seus pensamentos causavam reações muito presentes em seu corpo, a tal ponto que, às vezes, era necessário um banho para ver se elas acabavam escorrendo pelo ralo. Não porque ela considerasse isso sujo, mas Clara precisava voltar às suas obrigações.
Ela não estava conseguindo seguir os seus dias tranquilamente. Criava esses mundos paralelos e vivia algumas vezes lá e outras aqui. Digo “viver” porque esse passado, como já mencionado, trazia reações tão reais que se transformava em presente.
Mas como ela poderia imaginar que um simples jantar se transformaria nessa armadilha em sua mente?
Afinal, naquela noite de julho tudo começou timidamente, com alguns olhares perdidos entre a cozinha e a copa.
Pequenos toques que eram provocados com certo medo. Tudo aquilo era muito estranho para ela.
O jantar seguiu numa atmosfera envolvente. Muita conversa. Palavras jogadas eram intercaladas com pequenos silêncios perturbadores.
Talvez o vinho já tivesse dado aquele ar de liberdade, pois agora, Clara não mais fugia dos olhares e sim os provocava. Muito mais direta e cheia de intenções. Novamente o tal silêncio. Só que este era longo, muito longo.
Pequenos movimentos de aproximação, pequenos toques suaves e deslizantes começaram a ser manifestados.
Um calor tomava conta desses dois corpos, a mistura de medo, ansiedade e vontades. Uma pequena tontura, talvez pelo vinho. Um beijo. Dois lábios se tocando com uma ardente entrega. Agora não poderiam mais parar. Eram tomados só de desejo, talvez o puro instinto que os comandava.
Do beijo para dois corpos nus, jogados, enlaçados ao chão de uma sala.
Suas bocas já não se procuravam mais, porque agora toda pele era alimento. Formas geométricas, outras desconexas, uma dança selvagem: esta era a cena.
Tudo envolvido pelo perigo de seu marido, ou melhor, seu namorado-marido chegar, afinal era um daqueles dias em que às vezes ele aparecia por lá.
Mas a loucura daquele instante era pura comunhão em um êxtase divino. Seus corpos já eram banhados com a mais pura satisfação. Os dois agora, estáticos, deitados. Seus sexos e seus olhos apontados para o teto. No pensamento, nada. No corpo, o cheiro - resultado de seus desejos.
Aquela noite de julho terminou com um banho e muito silêncio.
E agora todas essas sensações começavam a voltar repentinamente em sua memória.
Até esse momento Clara não entendia o porquê dessas lembranças. Mas, ao abrir sua caixa de e-mail nesta manhã entendeu tudo.

Bela Clara,
Paris é linda. Adorei toda minha experiência por aqui, mas a saudade é grande.
Não vejo a hora de encontrá-la novamente.
Volto ao Brasil nesta semana.

De alguém que nunca te esqueceu,
Paula.

P.S.: Trago na mala um delicioso vinho francês.

Fim.

foto:http://br.olhares.com/vinho_a_luz_de_velas_foto993508.html

terça-feira, 25 de agosto de 2009

AQUALUNG


Ele estava sentado na mesma cadeira, na mesma padaria de sempre, a mesa localizada ao lado de uma parede com aquelas pinturas que querem ser modernas.
O pedido de sempre; uma xícara de café preto.
Entre um gole e outro um pequeno silêncio estacionava na sua mente.
No Ipod ondas sonoras que seu ouvido decodificava como Jethro Tull, faziam pular do silêncio presente para um passado cheio de lembranças, onde a própria musica tinha gosto, cheiro, sentimentos, uma viagem de nostalgia sensorial. Mas um gole de café, agora momentos sem pensamentos alternavam com uma percepção interna de seu corpo. Alguns órgãos uma leve vibração, mas o interno estava mais identificado com um extremo vácuo, uma imensidão sem fronteiras, outro universo talvez.
Passado algum tempo, minutos, talvez segundos, tudo muda.
Seu olhar agora está fora; as pessoas, seus movimentos. Ele olha e não há julgamento, mas só uma curiosidade infantil. Era até engraçado ver todo aquele balé mecanizado, movimentos talvez combinados, talvez instintivos, pré-programados, como os meus e como os seus.
De repente um olhar e outro cruzam com o seu, migalhas de uma conexão mais direta, mas tudo passagem.
Quantas relações, quantas vidas, quantos corações.
Ele não estava esperando nada, ninguém, estava ali à vontade consigo.
Observando qualquer coisa que acontecia, tomando notas às vezes, brincando de escritor.
Alguns desejos e vontades pairavam como nuvens lentas que horas eram interrompidas pelo tal vácuo, que trazia certa tranqüilidade, comparada àquelas que procedem no mar, após uma forte tormenta.
Mais um olhar, conexões.
Quantos olhares uma imagem sem movimento pode atrair em um curto tempo de espaço?
E a flauta melódica e selvagem do Jethro Tull faz o pano de fundo da cena.
Ele escreve, anota, risca aqui, concerta ali e mais um olhar o cruza, mas uma passagem, mas um passageiro.
O café acaba, ele levanta, paga a conta, olha e segue adiante, um próximo momento o espera.
Talvez um blues, talvez uma bossa nova, talvez...



foto:http://br.olhares.com/caderno_de_viagem___um_cafe_em_praga_foto571002.html

sábado, 27 de junho de 2009

Coisas acontecem neste momento.


Coisas acontecem neste momento.
E você que está aqui sabe!
Uma confusão se materializa na imagem de uma tormenta.
O errado e o certo duelam na corda bamba de um circo qualquer. Sem redes.
Aguardando o desfecho final, o barco continua navegando
O passageiro dentro de sua viagem nunca saberá onde será a próxima parada.
Em momentos observa, em outros momentos está tão mergulhado que... Ahhhh!
Quantos sonhos precisarão repetir para realmente ver?
E o cortejo não para. Não, ele não para.
Mas algo não move, não é da sua natureza.
E você sabe! Pois você está aqui também.
Certa vez ouvi que os pensamentos eram como o vento e o verdadeiro eu como o Universo.
Certo dia eu ouvi...


quarta-feira, 27 de maio de 2009

Início de um fim.



Uma promessa com recheio de vidas.
História contada a três.
Conflito sentido em mim, um jogo entrelaçado por nossos desejos.
Nosso presente amargo, feito de memórias doces de um passado.
Apego e paixão dançam entre meu sexo, minha mente e meu coração.
Desejo de odiar para apagar. Apagar o que já foi real e hoje desfalece em ilusão.
Decepção vista de um lugar de olhos fechados. Um antes, remoto. Pernas abertas, peito entregue e olhos vendados.
Quero o que não me pertence. Preciso do que já foi meu.
Um ser que se abre. Outro que se fecha.
Angústias querem entrelaçar no espaço onde a entrega já existiu.
Não ligue. LIGUE!
Não fale. FALE!
Não decida. DECIDA!
Pois o meu ser não se cala diante da covardia.
Que momento é esse?
Preciso de outros, preciso ser outros!
Agir é preciso. Quero a bagunça.
O silêncio me mostrará quem você é.
O silêncio me mostrará o que eu sou.
O silêncio mostrará o que quero.
Vai! Não se mexa.
Não quero descobrir que na história de um amor o final é incerto.
Estou embriagado com o medo. Não quero redescobrir que realmente pensamos ser os reflexos de outros.
Vai!
Não quero descobrir que perdi um outro que criei em você.

Foto:http://br.olhares.com/desencontros_foto2771158.html

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Duas luas nasceram


Duas luas nasceram
Meu amigo se duplicou
Um era são, o outro mudo
Ninguém o via, mas ele se duplicou

Duas luas nasceram
E as pessoas se duplicaram
Lugar de um passado em novidade
De um presente

Duas luas nasceram
E o Agora o céu tem janelas
E elas falam comigo


Duas luas nasceram
E todos são muitos, quase zumbis
Seguindo o que já era existente

E eu...
Caminho e não duplico em uma trilha conhecida
Pessoas agora quadriplicam
Olho para o lado, acima e vejo
Duas luas nasceram



foto: André Auke

quinta-feira, 23 de abril de 2009

DES ou não SER



Tudo que digo não sei por onde anda
Quero o silêncio porque me completa
Ser muitos que passam e ser o que fica
Não contenho nada desse resto que me é dado

Sei quem você é, pois sei quem sou
Mas mesmo assim eu me perco
Por horas, nesse vácuo de todos
Teorias me levam ao acaso

Quero o simples porque me completa
Em tardes de outono sou poesia
Bares e café, sou um Deus à espreita
A escrita me define e as palavras não me sustentam

Ser o que não interessa
Não precisar DES nada
(DES necessário, DES complicado, DES falecer, DES aparecer, DES mistificar, DES, etc. etc.)
O que me completa não tem DES e nem SER.


foto: André Auke

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Uma Palavra só.




A porta entre aberta.
Nossos olhos bebem um querer.
Meu coração suspenso.
A razão foge você vai.

Quando a coragem é mais forte
que um desejo?
Queria dizer para você,
mas tenho medo.
Mas tenho medo.


Nossa verdade está perto.
Nosso tempo é tão pequeno.
Eu não posso esperar.
Você vem e o medo vai.

Quando a coragem é mais forte
que um desejo?
Queria dizer para você,
mas tenho medo.
Mas tenho medo.


Quando a coragem é mais forte
que um desejo?
Queria dizer para você,
mas tenho medo.
Mas tenho medo.



quinta-feira, 12 de março de 2009

Ontem a tarde...



Ontem à tarde a lua veio até mim.

Ontem à tarde ela desceu na terra para falar comigo.

Foi uma fração de segundos, mas ela falou comigo:

Segundos aqui, pois neste momento de tempo o tempo não existia.

Era em uma tarde onde o sol reinava, mas até ele cedeu aos encantos desse instante.

Uma comunicação sem fala, sem palavras, apenas o barulho do coração, batendo o ritmo de uma respiração alerta.

Com um olhar, apenas um olhar e a lua veio a terra falar comigo.

quinta-feira, 5 de março de 2009


Quero mais é poesia,


pois a razão só serve para fazer conta...


Se fosse pelo menos um faz de conta de criança...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Nada é por acaso




Naquela Noite De Estrelas
Eu Tinha Uma História
Para Ouvir,
Pedaços De Uma Oração

Rezamos Pelo Invigiável (Não Vigiável)
Entre Linha Dizemos
Coisas Do Coração


O Copo Cai. O Líquido Escorre
Tudo Vazio De Novo
Nada É Por Acaso
Tudo Vazio De Novo

A História É Uma
Voz Que Não Atende
Em Um Livro De Água
Escrito Em Páginas De Óleo


Uma História Curta
Como O Fogo De Uma Vela
Queimando À Distância
O que as estrelas já Diziam.


O Copo Cai. O Líquido Escorre
Tudo Vazio De Novo
Nada É Por Acaso
Tudo Vazio De Novo

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Cavalo Alado



Aqui do alto onde estou, percebo tudo. Tudo é como uma visão.
Quantas mentiras, tantas ilusões, poucas coisas sobram. Incrível!
Era para ser difícil ver isso, mas tudo é tão claro que se torna fácil.
Isso não muda a essência dos meus sentimentos. Eles estão lá, todos presentes. Mas por fora, grandes correntes.
É quase difícil achar um modo diferente.
Parece que tem até um porquê de ser assim.
Será?
Aqui, estou livre como gosto.
Sou um cavalo, mas alado. O meu destino não é correr, e sim voar.
Sou instinto no corpo de cavalo, sou sentimento em pele selvagem.
Daqui do alto tudo é tão claro. Quando desço me torno denso. Tudo lento e espesso.
Preciso de alimento, preciso de vento.
Vem, suba bem alto. Quero te mostrar. Daqui do alto tudo é tão claro.
Vejo tudo e todos. Quanto engano, quanto apego. Mas meus sentimentos estão lá.
Quando desço crio areia em minhas asas.
Gostaria que você me acompanhasse, mas daqui tudo é tão claro: só voa alto quem não tem areia nos braços.
Cubra meus olhos, mas não me empeça de voar.
Sou um cavalo alado, nasci para o ar. Na terra sou passagem.
Se quiser eu te levo. Minha casa não tem estradas e nem fronteiras.
Mas por favor, para voar comigo, deixe as raízes no chão.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Um poço que não existe


A vida que pulsa em mim embaraça nas minhas entranhas. Meu suspiro é um vômito de apelo.
A vida que pulsa em mim se confunde com os meus sonhos.
Acordar já não é mais natural e sim necessário.
Os pensamentos me levam para direções às quais não posso voltar.
Na minha cabeça, um duelo infinito de vontades e desejos, dos quais não tenho coragem de solta-los.
Ser prisioneiro de si é a pior coisa que um homem pode sentir.
As escolhas são diversas, a alma é cortada com uma navalha de medo.
Meu único amigo, o silêncio. Minha esperança, a morte, a morte de minha covardia.
A vida me chama, mas entre nós: o precipício.

Qual é a verdadeira liberdade de um homem?

Quero me ver por dentro, mergulhar nesse buraco de emoções e não voltar, viver submerso em mim mesmo. E quando eu cansar das profundezas de um ser desmascarado, quero saltar o mais alto possível, onde nem mesmo o meu grito me alcance.

Até quando uma dor pode libertar um homem, se ela própria é a materialização da ilusão?

Até quando um homem é livre, se ele mesmo é a materialização da ilusão?

Até onde eu me identifico com tudo isso, se tudo isso não existe?



domingo, 31 de agosto de 2008

Despedida


Neste momento me parto, na divisão que me corrói.
Tenho que ir, mas algo quer ficar. Tenho que partir.
Mas o pulsar me prende.


Sou um em dois.
Não fale... Pois isso me consumiria, tento lutar uma luta injusta.
Sou um em dois.

Eu vou, mas quero ficar, mas vou.
O passado é história, o futuro clama e o presente me queima.

Sou um em dois.



foto: André Auke/modelo: Jéssica Fogaça

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

o silêncio de um orgasmo


Menina bonita, corpo xingado e sabor de pecado.
Leva-me contigo e me beija na boca, quero ser menino no seu colo e homem na tua cama.
Descobrir o seu corpo sem os olhos, amar a vida somente porque você existe.
Como um pescador em seu mar, onde a necessidade e a divindade dão as mãos em nossos lençóis, nossas mãos se perdem na dança entrelaçada de nossas vontades.
Virtudes, deixo no chão. Crenças, debaixo da cama. Os outros, no quarto do lado, pois somos livres quando nossos orgasmos se encontram.
Pequena dama, quero estar dentro do teu corpo as vinte e quatro horas do dia. Sua flor desabrocha o meu ser. Sou egoísta, pois neste presente não me importo com nada.Prefiro o silêncio de estar contigo do que o barulho do mundo.
Não estou fugindo de nada, apenas me encontrando. Mesmo que venham atrás de mim, eles passarão, pois do lugar onde estou, quando nossos corpos se falam, só eu posso estar.
Menina bonita que passa e mexe comigo, nossa comunicação não está neste tempo, entenda isso, só assim as futilidades caem, só assim nos vemos com os olhos do coração.
Minha pequena dama, deixo meus sonhos em nossos travesseiros e a realidade para aqueles que acreditam nela.
Não sou feito de sonhos ou realidade, sou o sonho e a realidade ao mesmo tempo em que sou nada.
Um nada que adora viver o momento sem tempo de um orgasmo, do que o tempo de um relógio.
Menina bonita, vem comigo ser nada dentro do silêncio e deixar a nossa transpiração falar, pois eu... Não quero dizer nada.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ao som de uma onda


Hoje tive um sonho, o encontro com a minha realidade.
A menina dos meus olhos adormecia ao som de uma onda.
Sou tão pequeno diante dessa natureza.
Eu acordei e a realidade se foi.

Ah, menina! Volta e faz do meu dia um sonho .

Quero dormir esse sono para o resto da minha vida.
Não te conheço. Mas sou seu.
Seu cheiro exala no meu corpo a cada manhã.
Bela menina, me faz dormir para contigo seguir.
Ao som de um onda você embala meus desejos. Quero você em meu travesseiro, seus cabelos perdidos em meu peito.

Ah, menina! Volta e faz do meu dia um sonho.

De olhos fechados. Você sabe, de olhos fechados.
Menina-Mulher, partícula da minha loucura: de não poder dormir para sempre.
De olhos fechados, pois é assim que bebo a gota de vinho em seus lábios.

Ah, menina! Volta e faz do meu dia um sonho.
a menina dos olhos adormecia ao som de uma onda...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O Nascimento



Em uma noite sem estrelas, o céu chora.
Uma carro na escuridão corre. O freio não funciona. Ele não pára.
A sirene vermelha grita!
O freio . Ele está vindo, mas ele não pára.
A porta de vidro explode. Agora sim, pequenas estrelas, mas elas estão no chão.
Ele ainda vem, mas ainda não pára.
O menino nasce sozinho e corrido.
Seu destino, não sei.
Sem pai, um parto de horas.
Em janeiro o início, do quê?
Enquanto um nasce, outro morre.
Uma esquina, um túnel, ele não pára.
Algo acontece. Uma passagem: do líquido para o seco, do quente para o frio.
Ele que vir, ver esse lado, ser esse lado, mas um sopro queima.
Agora não tem volta, o relógio anda, até o momento da volta. Quando?
Entre tantos, mais um. O garoto sozinho, corrido.
Seu destino, não sei.
Uma luz indica o caminho, uma luz fria, do silêncio para o barulho.
Nasce um sem eu, sem nome, sem nada para ser e com tudo que acharão que deva ser.
Uma dor, um medo!
Seu destino, não sei.
Lá fora, o céu ainda chora. Aqui dentro a tensão e plasma.
O garoto continua não sabendo o seu destino, ess é o provérbio. Será? Por quê?
Hoje ele corre, continua correndo, sozinho, não pára, não consegue, pois foi assim que nasceu: Com estrelas de vidro aos pés, bonitas, brilhantes e cortantes.
Seu destino , não sei.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Salsa com Pimenta

Andar na Paulista sem nada a fazer, sem horário a cumprir, sem rumo a seguir, sem o tempo a perseguir.
Ver tudo e nada fazer.
Parar sem prevenir.
Andar sem decidir.
Espaço Unibanco. Ver a seleção e não assistir, hã!
Subir ao frio da tarde na augusta.
Bela Paulista! Com sopa ou capuccino?
Sopa! Feijão e palmito, hã! Que delícia!
Sozinho? Não! Acompanhado: Caderno e lápis na mão.
Pimenta, na sopa, esquenta. Corpo aqueçe, esqueçe corpo.
Salsa na sopa, salsa à noite, dança quente, esfria mente.
Baila, baila garoto, pois a vida é sopa quente com salsa no sangue, frio da augusta na mente e pimenta, muita pimenta calabresa dentro da gente.
Gente moleque de ser!
Gente brincando de ser!
Gente pensando ser!
Gente chorando por ser!
Gente querendo ser!
Gente se achando ser!
Gente buscando ser!
Gente morrendo de ser!
G E N T I L M E N T E sendo o que veio para ser.
E eu pergunto a você, camarada:
Ainda procurando ser? Ser o quê?
Abra os olhos para as suas Paulistas frias. Deguste da sopa até o fim. Lambe os lábios e deixe a pimenta escorrer.
E por fim, por fim.
Baila! Baila uma salsa com a Vida.

sábado, 31 de maio de 2008

A Feira.


O homem em busca de si, se perde no cheiro da menina que não sabe quem é.
Um tempo que separa as idéias, ideologias, idade.
Ele perdeu-se. Não encontrou, esqueceu, deixou levar-se, acalentado pelos braços da multidão.
Ela cresce, buscando, fugindo, esquivando-se de todos.
Ela pensa em quem é, mas não enxerga a imagem refletida do que se é.
Ele perdeu-se, deixou -se levar pelo instinto. Primário, animal: não pensa, não reflete, não acorda é puro reflexo condicionado, comandado, aprisionado pelo inconsciente.

O encontro, as ilusões confrontam-se!

Sociedade, dinheiro, posse, romance, futuro, esperança.

As ilusões confrontam-se!

Dois mundos em um, dois seres na busca eterna de ser um.
Dois sonhos vivendo a esperança sonâmbula de cada dia.
Um perdeu-se, outro busca, um esqueceu, outro não sabe.
A esperança, a desesperança.

As ilusões se confrontam!

Ele a quer. O bicho à espreita da caça.
Por dentro da máscara esculpida, esconde-se o animal extinto, sedento, feroz, sem sinapse, somente guiado pelo cheiro da menina que pensa quem é.
Nele, todos os nãos, todos os medos querendo pular para o corpo dela, querendo penetrar toda a sua culpa, toda a sua vergonha, toda tensão da multidão.
A necessidade de, por alguns minutos, sentir-se realmente morto, pois morto é a única sensação que o faz sentir-se vivo.
Ela repulsa o órgão acusador, indicador, desbravador. Lá não existe a licença.
Procura no outro o reflexo de si, o corpo de si, o cheiro de si, o amor de si.
Lá só existe o toque, o cuidado, o seu cheiro, o igual. Lá não tem a diferença que assusta, invade, penetra.
Ela também dorme por trás de sua máscara esculpida.
Ela não quer acordar. Acordar dói.
Ele, o tempo já o deixou morto, adormeçeu na busca.

As ilusões confrontam-se!

Ele, ela, sexo, cheiro, diferença, esperança, máscara, idade, tempo, medo.

As ilusões confrontam-se.

As ilusões confrontam-se.
As ilusões confortam-se.
As ilusões encontram-se.
As ilusões, as ilusões...
Asilu. Asilu. As. As.
A. A. (silêncio).

sexta-feira, 9 de maio de 2008

mais um encontro esquipático


Olá, minha querida!
Já nos conhecemos. Eu nem preciso convida-lá a sentir-se em casa. Você, como sempre, entra sem pedir permissão. Às vezes mansa, suave como uma pluma, outras horas, cortante e lampejante. Como será desta vez?
Somos tão íntimos, desde o meu nascimento, e mesmo assim toda vez que você me visita é como se fosse a primeira vez.
Acho que já não luto tanto mais... Ai, ai, ai, esse sorriso...
Isso! Vamos beber uma taça de vinho juntos. Isso pode me ajudar a relaxar.
Hum? Você convidou eles também? É, vou precisar mais do que uma taça, esse encontro promete.
Eu sei, sou eu que marco, mas é que...
Ai! Está difícil dessa vez.
Ok! Ok! É você que comanda. Sou todo seu.
Essa sua voz, ela entra em meus poros, rasga o meu peito, mergulha para lugares que ainda desconheço.
E eu que pensei que era só corpo e sangue.
Como você é bonita. Por que às vezes tenho medo? Lógico que prefiro quando você já está nua, mas eu sei, eu sei, ainda é cedo.
Você tem seu preço, são eles. É difícil, porque eles são meus.
Por favor, minha querida, não me torture eu quero o êxtase.
Vou ficar em silêncio, chegou aquele momento, sei que não devo fazer nada.
Será que aceitar é um fazer?
Minha linda, meu corpo chora e o meu coração goteja, a mente está em pura epilepsia e eu sou um fio de seda que traféga nessa paisagem.
Você assiste. Eu observo.
Rimos, choro, lamento, acordo.
Ah! Minha pequena dama, despe para mim, quero ver o amor que procuro nos seus seios, a minha verdade vem do seu sexo.
Eles não importam mais, agora já sou seu perfume.
Agora somos uno.
Convido todos eles, agora, sem nenhuma exceção. Venham todos!
Até você, não tenha medo, meu querido medo, sente-se, sirva-se do melhor vinho. Beba-me até a última gota, não se preocupe, ainda não é a última safra.
E você... Minha pequena dama...
Até o nosso próximo esquipático encontro, esperooo...
Não, não espero nada.

Au Revoir!

domingo, 30 de março de 2008

ESTRANHO


Estranho, sinto como se eu me basta-se. No externo, aparentemente um caos, mas olho para dentro em busca de um "eu" em paz.

Observo tudo. Ou pelo menos tento, mas há um progresso: Observo o caos e observo um vácuo interno crescendo ou será um vazio? Um vazio que cada vez mais não tem fim. Engraçado, ele me preenche.

A cada pensamento distancio-me e tenho a consciência dele, que vem com a buzina, que vem com as pessoas ao meu redor, que vem com a batida do meu coração, que vem com minha barriga movendo-se...

Isto é estar pleno neste momento ou é mais uma ilusão? Observo.

O vazio cresce, um silêncio. Como pode isso, com essa barulheira aqui fora?

Algo estranho aproxima-se, assisto que o observador está querendo desaparecer.

Sinto que sou o nada com tudo acontecendo.

A vontade é de parar e ficar aqui, sem movimento, só isso.

Não existe nenhum sentimento de êxtase esplendoroso, nenhuma luz, nenhum amor fraternal ou mesmo ódio fraternal. Nada.

Mas sei que estou verdadeiro para qualquer pessoa neste momento, não sei o por quê, mas sei.

Nada transborda, nada explode, nada ilumina, nada acontece. Nada.


Vejo o barulho e o silêncio tudo ao mesmo instante.


Eu sou o barulho e o silêncio.


Eu não sei quem eu sou.


Isso tudo é estranho, preciso de um pensamento, preciso sentir um apego, preciso agarrar-me a uma ilusão. Pois, este estado de "nada importa" é grande demais para o momento.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008


Há águas que trazem lágrimas que enxáguam a casa, a vida, inundam a esperança.Por fora, molha. Por dentro, seca.

Enxurradas em uma cidade.

A culpa escorre por todos os lados: político e cidadão.

Em São Paulo todas as águas correm para o mesmo lugar, mas ainda não são suficientes para lavar a vergonha e deixar bem limpo a consciência.

Um papel voa ao vento, dança até o sopro tomar outro rumo.

A janela automática de um Mercedes, a manual do ônibus, a horizontal do trem, todas são a mais pura visão da ignorância.

Hoje em uma rua choro, vendo os meus sonhos escorrerem ladeira a baixo como um barco. Ontem, sorrindo, ensinei meus filhos a contribuírem com o resto de seu doce...Hoje pela televisão digital de plasma, sinto dó de um tipo de povo que nada onde era para andar. Ontem, a minha preguiça mórbida contribuiu...

Em São Paulo todas as águas correm para o mesmo lugar.


foto: André Auke

momentos passam...


Parado estou, estancado, neutro.Porém mais vivo que a qualquer outro momento.Nada importa ao meu redor, apenas este momento, aqui, parado, ereto.

Sem movimento.

O trem se aproxima, sinto.Não vejo, porque não preciso.O trem passa, vejo.Momentos que passam à minha frente.Olho e vejo. Agora posso escolher.Tenho que correr e ser rápido.As portas se fecham.Eles se foram.

Para outra estação.
Momentos que passam.


Foto: André Auke

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Saudades

Saudades...

Palavra tão pequena, oito letras apenas.

Até parece. Que miséria!

Eu preciso de uma biblioteca. Não, também é pouco.

Ah! Saudades... apenas.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

MENINA


A menina de cera é bonita, ela é uma boneca de cera que se pinta para ficar mais bonita. Ela não


sabe que já é bonita.


Ela usa sua maquiagem para no espelho de seu banheiro não se ver.


Ela se vê no espelho da sala, sentada no sofá ou pelo menos acha.


Quem será a menina por trás da máscara de boneca pintada?


Ela não sabe que já é bonita?


Ela esqueçeu... Ela se perdeu, dentro de uma revista de moda...


Corre para o quintal menina e volta a brincar, nina a boneca no seu colo, só para você lembrar


que não precisa ser ela, para se encontrar.


O que será que tem por de trás da roupa dessa menina? É coração ou pilha?


Acorda menina do sonho que esconde o pesadelo, da aparência que disfarça a carência.


No final as lágrimas são adstrigente, mas por dentro da face o pó corroí.


O tempo é pavil, mas também é soro.


Acorda minha bela menina.




Olhe para mim por favor


Olhe de verdade um instante, me veja


Pois estou aberto mas não sei até quando


Olhe para mim, por favor...


para que eu possa me ver da forma que um espelho não me mostre.





Na solidão DES-FAÇO que a felicidade
é algo palpável.
foto: André Auke
modelo: Jéssica Fogaça

terça-feira, 9 de outubro de 2007

“Há os que se levantam e fazem,
e há os que sentam e choram.”
( Mestre DeRose).


Gasto um espaço do meu tempo a observar as pessoas ou ocasiões, que me mostrem esse exemplo, onde a superação se faz presente.
Casos onde quase todos se dariam o direito de sentir pena de si mesmos e deixar o fantasma do vitimismo assombrar, a autopiedade vestida de linda moça, convençendo-o sensualmente.
A mais bonita e frágil carência infantil, vir à tona e fazer do seu eu-adulto: Um carrinho de rolemã.
Tudo isso, assistido por uma platéia ferveroza de tourada espanhola lhe dizendo em coro grego:
“Coitado, que pena que dá. Oh! Que dó”.
Mas não! Certos seres humanos me mostram, sem mesmo me cobrarem, a grandeza das grandezas. Onde me pergunto como pode algo frágil ser forte? Um antagonismo que martela e quebra minha mente em cacos; pela não capacidade de compreensão. Pois compreender algo tão simples está além.
Mesmo montado no rabo de um cometa não alcançaria.
Mas ao fechar os olhos: Lá está, perto da alma e longe do tato.
Vejo esses homens e mulheres que teriam todo apoio da pláteia fervoroza, para sentarem e chorarem. Mas sua alma escolhe levantar e suas mãos, fazer.
Lembro-me e fortaleço-me nesses exemplos.
Para quando o meu vitimismo e seus derivados unirem-se com as minhas pláteias espanholas, que eu consiga manter a escolha de sempre levantar e fazer.
E quando sentar, que seja para tomar folêgo; quando chorar, que minhas lágrimas sejam a representação física de um estado de contentamento.
Esse não é um depoimento de acertos e pontos, ma sim de erros. Vários erros que me conduzirão ao acerto e traços como passos que dou em uma linha contínua que nunca sei ao certo qual será o seu fim.


Só sei, que vou seguir.


03/05/2006. Noite.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

C A C O S


Um parto me faço e parto em pedaços de cacos que se juntam a cada passo, dentro de um

quarto.

Para lá e para cá um parto a cada passo, apenas um pedaço para cada lado.

O dia define o parto em pedaços e a noite traz a forma do que por um momento foram

cacos. E assim que vai o dia e assim que passa a noite: de pedaços que partem em cacos e

voltam à forma, para que no outro dia o parto se faça.

E aqui eu me parto, bom dia

OU aqui eu me enquadro, boa noite.
foto: André Auke
modelo: Jéssica Fogaça

terça-feira, 11 de setembro de 2007

QUÍMICA


Preparo o espaço como um ritual único e sincero.
Tudo se faz importante: o ar, a luz, o som, tudo tem que exalar poesia.
Harmonia como acordes de uma música, onde as notas brincam e acasalam-se em fusão vibratória que penetra meus ouvidos e eroticamente acorda meu corpo.
A espera faz parte desse conto de prazer, onde viajo com as sensações que a de acontecer.
Sua silhueta me diz a história que contaremos.
Com curvas, pele, rios, desejos, suspiros e sorrisos.
Quanto mais te olho, mais te desejo, um desejo sem posse. Mas o desejo de prolongar essa magia que se faz, quando te conheço por dentro.
Agora não tem mais volta, o espetáculo começou.
Uma peça de atos indefinidos. Um balé, cujos movimentos lentos, enlaçados me fazem não pensar.
Somos um, dois, milhões de corpos, células gritando, aclamando esse sublime acontecimento.
Dignos de um deus e uma deusa. Sentimos todo poder da vida, a natureza nos assiste e nos aplaude.
Protagonizamos o mais belo, onde nada mais existe e tudo acontece.
E como um quadro vivo, desenhos e formas riscam o ar, cuja atmosfera já é quente, pois o sangue ferve e os poros exalam o resultado dessa experiência química.
Tudo é vibração, palavras, gemidos, sorrisos, silêncio.
Grito por dentro como um vulcão e por fora danço, uma dança que não tem nome.
Deixamos de pensar, deixamos de querer, deixamos de julgar, deixamos de ser...

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

EM UM QUARTO QUALQUER


As linhas se cruzam. A paisagem se funde.
A visita de um ser que não sou eu.

Meu amor, por favor, não ligue.
Por favor, não ligue...

Quero beijar minha tristeza, quero ficar a sós com ela.
Preciso estar nu para encontrá-la.
Preciso de uma ação, mas ela me paralisa.
Seus lábios encantam, me seduzem, necessito tocá-los.
Preciso de uma ação que não me paralise.
Tentei fugir, mas ela está aqui: clara.
Quero olhar dentro dos seus olhos, mas não consigo. Mas sei que você está aqui.
Preciso ficar nu, preciso estar nu.

Meu amor, por favor, não ligue.
Desta vez tenho que...

Ela me seduz e hoje deixarei ser seduzido.
Será o nosso encontro definitivo.
A paisagem, as linhas, eu, ela.

Vem. Agora te vejo. Estou pronto.
Pela primeira vez estou nu.

Vem minha querida tristeza, pois hoje te penetro e me encontro.
Que nesta cópula a minha entrega é VIDA e o meu gozo é MORTE.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

O que falta no mundo?


Respeito, muito respeito.
Não precisamos de amor nem de paz, isso já existe muito. Qualquer igreja ou religião tem amor para dar e vender (pelo menos isso é pregado). Qualquer ONG oferece a paz como voluntariado. AGORA, respeito, todos nós esquecemos na maioria das 24h do nosso dia.
O desrespeito por si torna-se uma bola de neve tão grande que, a falta de respeito pelo outro se transforma em algo sem medida.
O que falta no mundo não é a vontade de salvar o mundo, mas sim a coragem de salvar a relação, o campo de possibilidades que existe entre eu e você. Não precisamos ir longe, é no cotidiano que mora o segredo que não é segredo.
A busca pelo grande é para qualquer um. A busca pelo pequeno, é para poucos acordados.
“Estou neste momento respeitando algo que é natural em mim? Ou estou representando um papel que me imporam?”.
“Estou ciente que a diferença é natural, orgânica e bela? Ou ela representa um espelho que reflete a imagem do meu complexo de inferioridade, o qual criei por deixar de ser natural, ou seja, LIVRE”.
Quando esbravejamos, gritamos, impomos e pisamos, essas são algumas formas que tentamos esconder o “espelho” com um pano. Partimos para as mais difícieis e espetaculares proezas, menos a mais simples: a da humildade e respeito. A humildade de sermos pequenos e grandes, o respeito de saber que outro também é nas suas formas mais variadas e diferentes de ser.
O mundo está precisando do micro, e o micro está na relação, no dia a dia, na ação após ação, no agora, no olhar de verdade para esta pessoa que está ao meu lado ou à minha frente, de ouvir realmente o que ela tem a dizer.
Às vezes, facilmente, podemos sair do papel de inquisidor e julgador de fraquezas alheias, para brincar em outro personagem, o do enfermeiro (símbolo de quem cuida) e dar a “pílula da atenção”. Isso não está longe, porque agora, neste momento, pode ser eu ou você esta pessoa que necessita ser ouvida, que necessita quebrar a corrente da desconfiança e querer realmente nadar neste mar de possibilidades que existe neste pequeno espaço que nos divide, espaço que pode estar tão longe quanto as estrelas ou tão perto quanto um carinho.Tudo depende das nossas escolhas.
È isso que está faltando no mundo: voltarmos a ser naturais, livres. Nessa essência somos perfeitos, já que fazemos parte de um organismo também perfeito, onde mora um estado natural que, quando o perdemos ou tentamos resgatá-lo, damos o nome de respeito.

RES - ponsabilidade em simplesmente ser, PEITO de aceitar.