sábado, 31 de maio de 2008

A Feira.


O homem em busca de si, se perde no cheiro da menina que não sabe quem é.
Um tempo que separa as idéias, ideologias, idade.
Ele perdeu-se. Não encontrou, esqueceu, deixou levar-se, acalentado pelos braços da multidão.
Ela cresce, buscando, fugindo, esquivando-se de todos.
Ela pensa em quem é, mas não enxerga a imagem refletida do que se é.
Ele perdeu-se, deixou -se levar pelo instinto. Primário, animal: não pensa, não reflete, não acorda é puro reflexo condicionado, comandado, aprisionado pelo inconsciente.

O encontro, as ilusões confrontam-se!

Sociedade, dinheiro, posse, romance, futuro, esperança.

As ilusões confrontam-se!

Dois mundos em um, dois seres na busca eterna de ser um.
Dois sonhos vivendo a esperança sonâmbula de cada dia.
Um perdeu-se, outro busca, um esqueceu, outro não sabe.
A esperança, a desesperança.

As ilusões se confrontam!

Ele a quer. O bicho à espreita da caça.
Por dentro da máscara esculpida, esconde-se o animal extinto, sedento, feroz, sem sinapse, somente guiado pelo cheiro da menina que pensa quem é.
Nele, todos os nãos, todos os medos querendo pular para o corpo dela, querendo penetrar toda a sua culpa, toda a sua vergonha, toda tensão da multidão.
A necessidade de, por alguns minutos, sentir-se realmente morto, pois morto é a única sensação que o faz sentir-se vivo.
Ela repulsa o órgão acusador, indicador, desbravador. Lá não existe a licença.
Procura no outro o reflexo de si, o corpo de si, o cheiro de si, o amor de si.
Lá só existe o toque, o cuidado, o seu cheiro, o igual. Lá não tem a diferença que assusta, invade, penetra.
Ela também dorme por trás de sua máscara esculpida.
Ela não quer acordar. Acordar dói.
Ele, o tempo já o deixou morto, adormeçeu na busca.

As ilusões confrontam-se!

Ele, ela, sexo, cheiro, diferença, esperança, máscara, idade, tempo, medo.

As ilusões confrontam-se.

As ilusões confrontam-se.
As ilusões confortam-se.
As ilusões encontram-se.
As ilusões, as ilusões...
Asilu. Asilu. As. As.
A. A. (silêncio).

sexta-feira, 9 de maio de 2008

mais um encontro esquipático


Olá, minha querida!
Já nos conhecemos. Eu nem preciso convida-lá a sentir-se em casa. Você, como sempre, entra sem pedir permissão. Às vezes mansa, suave como uma pluma, outras horas, cortante e lampejante. Como será desta vez?
Somos tão íntimos, desde o meu nascimento, e mesmo assim toda vez que você me visita é como se fosse a primeira vez.
Acho que já não luto tanto mais... Ai, ai, ai, esse sorriso...
Isso! Vamos beber uma taça de vinho juntos. Isso pode me ajudar a relaxar.
Hum? Você convidou eles também? É, vou precisar mais do que uma taça, esse encontro promete.
Eu sei, sou eu que marco, mas é que...
Ai! Está difícil dessa vez.
Ok! Ok! É você que comanda. Sou todo seu.
Essa sua voz, ela entra em meus poros, rasga o meu peito, mergulha para lugares que ainda desconheço.
E eu que pensei que era só corpo e sangue.
Como você é bonita. Por que às vezes tenho medo? Lógico que prefiro quando você já está nua, mas eu sei, eu sei, ainda é cedo.
Você tem seu preço, são eles. É difícil, porque eles são meus.
Por favor, minha querida, não me torture eu quero o êxtase.
Vou ficar em silêncio, chegou aquele momento, sei que não devo fazer nada.
Será que aceitar é um fazer?
Minha linda, meu corpo chora e o meu coração goteja, a mente está em pura epilepsia e eu sou um fio de seda que traféga nessa paisagem.
Você assiste. Eu observo.
Rimos, choro, lamento, acordo.
Ah! Minha pequena dama, despe para mim, quero ver o amor que procuro nos seus seios, a minha verdade vem do seu sexo.
Eles não importam mais, agora já sou seu perfume.
Agora somos uno.
Convido todos eles, agora, sem nenhuma exceção. Venham todos!
Até você, não tenha medo, meu querido medo, sente-se, sirva-se do melhor vinho. Beba-me até a última gota, não se preocupe, ainda não é a última safra.
E você... Minha pequena dama...
Até o nosso próximo esquipático encontro, esperooo...
Não, não espero nada.

Au Revoir!