quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Um poço que não existe


A vida que pulsa em mim embaraça nas minhas entranhas. Meu suspiro é um vômito de apelo.
A vida que pulsa em mim se confunde com os meus sonhos.
Acordar já não é mais natural e sim necessário.
Os pensamentos me levam para direções às quais não posso voltar.
Na minha cabeça, um duelo infinito de vontades e desejos, dos quais não tenho coragem de solta-los.
Ser prisioneiro de si é a pior coisa que um homem pode sentir.
As escolhas são diversas, a alma é cortada com uma navalha de medo.
Meu único amigo, o silêncio. Minha esperança, a morte, a morte de minha covardia.
A vida me chama, mas entre nós: o precipício.

Qual é a verdadeira liberdade de um homem?

Quero me ver por dentro, mergulhar nesse buraco de emoções e não voltar, viver submerso em mim mesmo. E quando eu cansar das profundezas de um ser desmascarado, quero saltar o mais alto possível, onde nem mesmo o meu grito me alcance.

Até quando uma dor pode libertar um homem, se ela própria é a materialização da ilusão?

Até quando um homem é livre, se ele mesmo é a materialização da ilusão?

Até onde eu me identifico com tudo isso, se tudo isso não existe?



domingo, 31 de agosto de 2008

Despedida


Neste momento me parto, na divisão que me corrói.
Tenho que ir, mas algo quer ficar. Tenho que partir.
Mas o pulsar me prende.


Sou um em dois.
Não fale... Pois isso me consumiria, tento lutar uma luta injusta.
Sou um em dois.

Eu vou, mas quero ficar, mas vou.
O passado é história, o futuro clama e o presente me queima.

Sou um em dois.



foto: André Auke/modelo: Jéssica Fogaça

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

o silêncio de um orgasmo


Menina bonita, corpo xingado e sabor de pecado.
Leva-me contigo e me beija na boca, quero ser menino no seu colo e homem na tua cama.
Descobrir o seu corpo sem os olhos, amar a vida somente porque você existe.
Como um pescador em seu mar, onde a necessidade e a divindade dão as mãos em nossos lençóis, nossas mãos se perdem na dança entrelaçada de nossas vontades.
Virtudes, deixo no chão. Crenças, debaixo da cama. Os outros, no quarto do lado, pois somos livres quando nossos orgasmos se encontram.
Pequena dama, quero estar dentro do teu corpo as vinte e quatro horas do dia. Sua flor desabrocha o meu ser. Sou egoísta, pois neste presente não me importo com nada.Prefiro o silêncio de estar contigo do que o barulho do mundo.
Não estou fugindo de nada, apenas me encontrando. Mesmo que venham atrás de mim, eles passarão, pois do lugar onde estou, quando nossos corpos se falam, só eu posso estar.
Menina bonita que passa e mexe comigo, nossa comunicação não está neste tempo, entenda isso, só assim as futilidades caem, só assim nos vemos com os olhos do coração.
Minha pequena dama, deixo meus sonhos em nossos travesseiros e a realidade para aqueles que acreditam nela.
Não sou feito de sonhos ou realidade, sou o sonho e a realidade ao mesmo tempo em que sou nada.
Um nada que adora viver o momento sem tempo de um orgasmo, do que o tempo de um relógio.
Menina bonita, vem comigo ser nada dentro do silêncio e deixar a nossa transpiração falar, pois eu... Não quero dizer nada.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ao som de uma onda


Hoje tive um sonho, o encontro com a minha realidade.
A menina dos meus olhos adormecia ao som de uma onda.
Sou tão pequeno diante dessa natureza.
Eu acordei e a realidade se foi.

Ah, menina! Volta e faz do meu dia um sonho .

Quero dormir esse sono para o resto da minha vida.
Não te conheço. Mas sou seu.
Seu cheiro exala no meu corpo a cada manhã.
Bela menina, me faz dormir para contigo seguir.
Ao som de um onda você embala meus desejos. Quero você em meu travesseiro, seus cabelos perdidos em meu peito.

Ah, menina! Volta e faz do meu dia um sonho.

De olhos fechados. Você sabe, de olhos fechados.
Menina-Mulher, partícula da minha loucura: de não poder dormir para sempre.
De olhos fechados, pois é assim que bebo a gota de vinho em seus lábios.

Ah, menina! Volta e faz do meu dia um sonho.
a menina dos olhos adormecia ao som de uma onda...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O Nascimento



Em uma noite sem estrelas, o céu chora.
Uma carro na escuridão corre. O freio não funciona. Ele não pára.
A sirene vermelha grita!
O freio . Ele está vindo, mas ele não pára.
A porta de vidro explode. Agora sim, pequenas estrelas, mas elas estão no chão.
Ele ainda vem, mas ainda não pára.
O menino nasce sozinho e corrido.
Seu destino, não sei.
Sem pai, um parto de horas.
Em janeiro o início, do quê?
Enquanto um nasce, outro morre.
Uma esquina, um túnel, ele não pára.
Algo acontece. Uma passagem: do líquido para o seco, do quente para o frio.
Ele que vir, ver esse lado, ser esse lado, mas um sopro queima.
Agora não tem volta, o relógio anda, até o momento da volta. Quando?
Entre tantos, mais um. O garoto sozinho, corrido.
Seu destino, não sei.
Uma luz indica o caminho, uma luz fria, do silêncio para o barulho.
Nasce um sem eu, sem nome, sem nada para ser e com tudo que acharão que deva ser.
Uma dor, um medo!
Seu destino, não sei.
Lá fora, o céu ainda chora. Aqui dentro a tensão e plasma.
O garoto continua não sabendo o seu destino, ess é o provérbio. Será? Por quê?
Hoje ele corre, continua correndo, sozinho, não pára, não consegue, pois foi assim que nasceu: Com estrelas de vidro aos pés, bonitas, brilhantes e cortantes.
Seu destino , não sei.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Salsa com Pimenta

Andar na Paulista sem nada a fazer, sem horário a cumprir, sem rumo a seguir, sem o tempo a perseguir.
Ver tudo e nada fazer.
Parar sem prevenir.
Andar sem decidir.
Espaço Unibanco. Ver a seleção e não assistir, hã!
Subir ao frio da tarde na augusta.
Bela Paulista! Com sopa ou capuccino?
Sopa! Feijão e palmito, hã! Que delícia!
Sozinho? Não! Acompanhado: Caderno e lápis na mão.
Pimenta, na sopa, esquenta. Corpo aqueçe, esqueçe corpo.
Salsa na sopa, salsa à noite, dança quente, esfria mente.
Baila, baila garoto, pois a vida é sopa quente com salsa no sangue, frio da augusta na mente e pimenta, muita pimenta calabresa dentro da gente.
Gente moleque de ser!
Gente brincando de ser!
Gente pensando ser!
Gente chorando por ser!
Gente querendo ser!
Gente se achando ser!
Gente buscando ser!
Gente morrendo de ser!
G E N T I L M E N T E sendo o que veio para ser.
E eu pergunto a você, camarada:
Ainda procurando ser? Ser o quê?
Abra os olhos para as suas Paulistas frias. Deguste da sopa até o fim. Lambe os lábios e deixe a pimenta escorrer.
E por fim, por fim.
Baila! Baila uma salsa com a Vida.

sábado, 31 de maio de 2008

A Feira.


O homem em busca de si, se perde no cheiro da menina que não sabe quem é.
Um tempo que separa as idéias, ideologias, idade.
Ele perdeu-se. Não encontrou, esqueceu, deixou levar-se, acalentado pelos braços da multidão.
Ela cresce, buscando, fugindo, esquivando-se de todos.
Ela pensa em quem é, mas não enxerga a imagem refletida do que se é.
Ele perdeu-se, deixou -se levar pelo instinto. Primário, animal: não pensa, não reflete, não acorda é puro reflexo condicionado, comandado, aprisionado pelo inconsciente.

O encontro, as ilusões confrontam-se!

Sociedade, dinheiro, posse, romance, futuro, esperança.

As ilusões confrontam-se!

Dois mundos em um, dois seres na busca eterna de ser um.
Dois sonhos vivendo a esperança sonâmbula de cada dia.
Um perdeu-se, outro busca, um esqueceu, outro não sabe.
A esperança, a desesperança.

As ilusões se confrontam!

Ele a quer. O bicho à espreita da caça.
Por dentro da máscara esculpida, esconde-se o animal extinto, sedento, feroz, sem sinapse, somente guiado pelo cheiro da menina que pensa quem é.
Nele, todos os nãos, todos os medos querendo pular para o corpo dela, querendo penetrar toda a sua culpa, toda a sua vergonha, toda tensão da multidão.
A necessidade de, por alguns minutos, sentir-se realmente morto, pois morto é a única sensação que o faz sentir-se vivo.
Ela repulsa o órgão acusador, indicador, desbravador. Lá não existe a licença.
Procura no outro o reflexo de si, o corpo de si, o cheiro de si, o amor de si.
Lá só existe o toque, o cuidado, o seu cheiro, o igual. Lá não tem a diferença que assusta, invade, penetra.
Ela também dorme por trás de sua máscara esculpida.
Ela não quer acordar. Acordar dói.
Ele, o tempo já o deixou morto, adormeçeu na busca.

As ilusões confrontam-se!

Ele, ela, sexo, cheiro, diferença, esperança, máscara, idade, tempo, medo.

As ilusões confrontam-se.

As ilusões confrontam-se.
As ilusões confortam-se.
As ilusões encontram-se.
As ilusões, as ilusões...
Asilu. Asilu. As. As.
A. A. (silêncio).

sexta-feira, 9 de maio de 2008

mais um encontro esquipático


Olá, minha querida!
Já nos conhecemos. Eu nem preciso convida-lá a sentir-se em casa. Você, como sempre, entra sem pedir permissão. Às vezes mansa, suave como uma pluma, outras horas, cortante e lampejante. Como será desta vez?
Somos tão íntimos, desde o meu nascimento, e mesmo assim toda vez que você me visita é como se fosse a primeira vez.
Acho que já não luto tanto mais... Ai, ai, ai, esse sorriso...
Isso! Vamos beber uma taça de vinho juntos. Isso pode me ajudar a relaxar.
Hum? Você convidou eles também? É, vou precisar mais do que uma taça, esse encontro promete.
Eu sei, sou eu que marco, mas é que...
Ai! Está difícil dessa vez.
Ok! Ok! É você que comanda. Sou todo seu.
Essa sua voz, ela entra em meus poros, rasga o meu peito, mergulha para lugares que ainda desconheço.
E eu que pensei que era só corpo e sangue.
Como você é bonita. Por que às vezes tenho medo? Lógico que prefiro quando você já está nua, mas eu sei, eu sei, ainda é cedo.
Você tem seu preço, são eles. É difícil, porque eles são meus.
Por favor, minha querida, não me torture eu quero o êxtase.
Vou ficar em silêncio, chegou aquele momento, sei que não devo fazer nada.
Será que aceitar é um fazer?
Minha linda, meu corpo chora e o meu coração goteja, a mente está em pura epilepsia e eu sou um fio de seda que traféga nessa paisagem.
Você assiste. Eu observo.
Rimos, choro, lamento, acordo.
Ah! Minha pequena dama, despe para mim, quero ver o amor que procuro nos seus seios, a minha verdade vem do seu sexo.
Eles não importam mais, agora já sou seu perfume.
Agora somos uno.
Convido todos eles, agora, sem nenhuma exceção. Venham todos!
Até você, não tenha medo, meu querido medo, sente-se, sirva-se do melhor vinho. Beba-me até a última gota, não se preocupe, ainda não é a última safra.
E você... Minha pequena dama...
Até o nosso próximo esquipático encontro, esperooo...
Não, não espero nada.

Au Revoir!

domingo, 30 de março de 2008

ESTRANHO


Estranho, sinto como se eu me basta-se. No externo, aparentemente um caos, mas olho para dentro em busca de um "eu" em paz.

Observo tudo. Ou pelo menos tento, mas há um progresso: Observo o caos e observo um vácuo interno crescendo ou será um vazio? Um vazio que cada vez mais não tem fim. Engraçado, ele me preenche.

A cada pensamento distancio-me e tenho a consciência dele, que vem com a buzina, que vem com as pessoas ao meu redor, que vem com a batida do meu coração, que vem com minha barriga movendo-se...

Isto é estar pleno neste momento ou é mais uma ilusão? Observo.

O vazio cresce, um silêncio. Como pode isso, com essa barulheira aqui fora?

Algo estranho aproxima-se, assisto que o observador está querendo desaparecer.

Sinto que sou o nada com tudo acontecendo.

A vontade é de parar e ficar aqui, sem movimento, só isso.

Não existe nenhum sentimento de êxtase esplendoroso, nenhuma luz, nenhum amor fraternal ou mesmo ódio fraternal. Nada.

Mas sei que estou verdadeiro para qualquer pessoa neste momento, não sei o por quê, mas sei.

Nada transborda, nada explode, nada ilumina, nada acontece. Nada.


Vejo o barulho e o silêncio tudo ao mesmo instante.


Eu sou o barulho e o silêncio.


Eu não sei quem eu sou.


Isso tudo é estranho, preciso de um pensamento, preciso sentir um apego, preciso agarrar-me a uma ilusão. Pois, este estado de "nada importa" é grande demais para o momento.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008


Há águas que trazem lágrimas que enxáguam a casa, a vida, inundam a esperança.Por fora, molha. Por dentro, seca.

Enxurradas em uma cidade.

A culpa escorre por todos os lados: político e cidadão.

Em São Paulo todas as águas correm para o mesmo lugar, mas ainda não são suficientes para lavar a vergonha e deixar bem limpo a consciência.

Um papel voa ao vento, dança até o sopro tomar outro rumo.

A janela automática de um Mercedes, a manual do ônibus, a horizontal do trem, todas são a mais pura visão da ignorância.

Hoje em uma rua choro, vendo os meus sonhos escorrerem ladeira a baixo como um barco. Ontem, sorrindo, ensinei meus filhos a contribuírem com o resto de seu doce...Hoje pela televisão digital de plasma, sinto dó de um tipo de povo que nada onde era para andar. Ontem, a minha preguiça mórbida contribuiu...

Em São Paulo todas as águas correm para o mesmo lugar.


foto: André Auke

momentos passam...


Parado estou, estancado, neutro.Porém mais vivo que a qualquer outro momento.Nada importa ao meu redor, apenas este momento, aqui, parado, ereto.

Sem movimento.

O trem se aproxima, sinto.Não vejo, porque não preciso.O trem passa, vejo.Momentos que passam à minha frente.Olho e vejo. Agora posso escolher.Tenho que correr e ser rápido.As portas se fecham.Eles se foram.

Para outra estação.
Momentos que passam.


Foto: André Auke