terça-feira, 10 de outubro de 2017

Nina não era de cá, nem de lá.
Era de outro canto, um que talvez não conheçamos.
Mas, ela veio até aqui, veio até nós.
Pra quê?
Pra quê Nina veio?
Veio mostrar.
Nina via as miudezas, não era de grandezas.
Nina via espaços no ar.
Ela via flor onde achamos haver coração e via coração onde achamos ser flor.
Nina era meio assim para nós; estranha!
Será que não estávamos preparados para a sutileza de Nina?
Ela era a pequena mais gigante que conheci.
Ela era arrebatada por desejos de arco-íris e tinha um certo carinho por sapos.
Eu disse que era estranha.
Mas, também tinha normalidades, gostava muito de goiabada.
Nina veio até aqui pra nos mostrar.
Ela foi, foi embora.
Não sei se consegui ver tudo, o que ela veio mostrar.
Saudades !
Toda vez que chove com sol e o céu fica riscado de colorido, como giz de cera, sinto um aperto na flor no meio do meu peito.
Chego acreditar que ela está por perto.
Mas não, ela se foi com seu ultimo desejo.
Nina queria ir e foi em uma carroça rosa.
Penso que ela foi viajar, talvez para algum canto que não conhecemos.
Agora sem Nina passo os meus dias assim:
Nas manhãs eu faço goiabadas, para as crianças da aldeia, pelas tardes passo caçando e fotografando sapos. Estou montando um álbum para dar a nina quando ela voltar.
Agora quando chega a noite, durmo abraçado com a esperança que Nina venha me visitar nos sonhos.
Ainda não aconteceu, mas quando esse sonho chegar eu vou lhe falar:

- Obrigado Nina, obrigado por me mostrar.


Inspirado no conto: A menina de lá.
Livro: Primeiras Estórias.
Guimarães Rosa.
  

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Aquela pequena subiu em minha cama, bagunçou os meus lençóis e molhou o meu travesseiro.
Sentiu-se dona desse meu reino.
Assumiu o trono vazio e esculpiu sua coroa vermelha com batom e perfume.
Essa pequena menina trazia a sábia  essência das  mulheres da sua tribo.
Sabia conduzir ás coisas com uma natural magia.
O tempo ficou de joelhos, simbolizando a sua reverência e respeito aos seus caprichos.
E eu? De pálpebras abertas e coração destrancado, sentia na pele cada respiração dela, com todas as suas nuances de ritmos e compassos.
E nossos mundos se uniam e co-criavam justamente naquele não-lugar, naquele não-espaço, no sutil momento que o tempo saia para dar uma volta aos pedidos dela.
Coisas de magia.
Coisas daquela tribo que eu já conhecia e tinha visitado quando pequeno, mas que jamais imaginaria que agora, como adulto, como seres grandes, nos reencontraríamos.
Coisas de sonho
Coisas de tribo.
Coisas daquela pequena.
Pequenas magias.



quarta-feira, 19 de julho de 2017

Qualquer dia desses, vou passa lá na sua casa. Para buscar aquele algodão que tu prometeu.
Vou comer o doce e lhe deixar uma flor.
Vou é pra me lambuzar na sobremesa, antes mesmo do prato sair do forno.
Assim, virando os sentidos, sacudindo as rotinas, quebrando as expectativas.
Trocando mesmo, toda a ordem do dia. 

sexta-feira, 28 de abril de 2017

É tanto andar para trás que as vezes me sinto até tonto.
Na tentativa de um giro para que os pés se aprumem pra frente.
Mas não tem jeito, eles tendem a querer ser como curupira.
Mas, já dizia o filosofo estrangeiro; é a utopia que faz a gente andar para frente.
Então bora continuar a construção dessa trilha.
Ora curupira, ora filosofo .
É desse  jeito que vamos abrindo a picada, uma hora a gente bate de frente de uma capoeira.
E ai, as vistas vai conseguir ver melhor e com clareza.

quinta-feira, 30 de março de 2017

Pietra tem sofrência de "eus".
Quando é pega subitamente pela consciência,  eles começam a vazar.
Extrapolam da sua mente.
Esparramam pela cama, sofá e banheiro.
Grudam no espelho.
Pietra não consegue controlar.
Apenas senta debaixo da mesa,  abre sua garrafa de whisky e observa seus "eus" dançarem.
Ela luta para não acordar, quer adormecer.
A noite cansa, Pietra cansa.
A noite vai e Pietra fica.
Pietra descansa, sua mente não.
Pietra dorme e seus "eus" não. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Eu quero escrever para vc menina.
Quero dizer que a vida é boa.
Que ela pode ser colorida.
Mesmo que o céu esteja cinza pela sua janela.
Vc pode escolher a cor que quiser, dentro do seu coração.
Não se engane pelo o que as bocas sujas falam, são apenas pessoas que sofrem por não terem creme dental.
No fundo todos querem o bem.
Feche a janela e desça para a rua, deixe a mente sonhar.
Estou lhe escrevendo e  minha carta chegará pelo vento.
Estou longe neste momento, não chegarei tão cedo.
Espero que a carta pouse logo em suas mãos.
Não quero vc no parapeito.
Pule para dentro do seu coração  e siga o arco íris.
Ele te levará  para bem longe, bem longe.
Onde não há sombras que te atormente.
Saia do parapeito menina.
Não durma agora, estou a caminho.
Quero lhe levar para cama, acariciar seus cabelos e contar histórias.
Enquanto isso receba minha carta e leia na calçada.
Desça do parapeito, eu chego logo.
Trago na mochila apenas algumas roupas novas, um amuleto e giz de cêra, muito giz de cêra.