segunda-feira, 20 de abril de 2015

Ela foi embora, doce como nascestes.
Não queria, mas foi.
A natureza é livre, mesmo diante dos nossos desejos mais puros.
Aquela pele sensível do tempo. O tempo que a fez sabia e tanto me ensinou.
Suas vértebras já lamentavam tantos outonos e primaveras.
Experiências vividas em uma estrada árdua de lutas, amores, vitórias, filhos e netos. 
Não adianta. Hoje só tenho as fotografias.
Ficaram as lembranças, os cafunés e o gosto do bolo de fubá.
Não adianta as lágrimas salgadas.
Ela se foi, doce.
Doce como seus conselhos, doce como sua voz, doce como suas broncas.
Em tantas luas foi o meu colo.
Em tantas tardes foi o aroma do café com ouvidos atentos.
Eu tenho uma caixinha onde guardo nossos abraços e balanços.
Quando a tristeza vem me visitar, abro a caixinha devagar e de repente o vento vai mudando a sua direção, vem manso ao meu encontro.
E ali sinto um perfume conhecido, fecho os olhos e me torno leve.
Rosas com cabelos brancos ao sair do banho.
A fragrância mais doce que eu já conheci.

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