domingo, 4 de abril de 2010

São Petersburgo, 1670


Naquela tarde andei porque foi preciso. Andei porque não sabia que poderia parar.


E enquanto eu andava fiquei observando as formas de como nossas histórias eram perpetuadas, percebi as nuvens que atravessavam nossos caminhos, elas traziam junto de si todo seu frescor, mas também a neblina.
Eu não poderia dizer algo possível de ser dito? Fiquei ali, sentindo.
Sabe, eu poderia ter ido embora a qualquer momento. Quero dizer não o que eu era de verdade, mas sim a parte que você acreditava. Essa sim era mutável, automática. Lembro que seu compromisso era o de ir e vir, sempre.
Isso vem de muito longe, sempre foi assim e não mudará; pelo menos não isso.
Agora ao contrario de antes sinto que o momento pode ser agora, não quero perder o tempo com as sobras.
Existo, mas isso não me basta mais.
Os códigos estão trocados e isso nos faz pensar que estamos vivendo.
Muitos sobrevivem, alguns existem e poucos vivem essa é a verdade.
É preciso escolher. Qual foi a sua escolha?
Pois a minha já foi feita, mesmo eu sabendo que ela já estava pronta, só esperando eu acordar.
Você também pode escolher não escolher.
Isso é fato, isso existe, isso é livre-arbítrio, você pode.
Também sei que posso me enganar com a minha própria escolha, mas assumo pagar o preço desse risco, Alias, já está parcelado.
E você? Assume o seu risco? Mesmo o de não fazer nada?
As coisas não são como parecem ser. Não estou lhe colocando contra uma parede, pelo contrário, estou lhe dando a opção maior: podemos abrir os olhos quando estivermos andando.
Pois se as cores estão aí, por que ficar só no cinza? Não que o cinza não tenha o seu valor, mas podemos mais.
Qual é a cor da sua nuvem, da sua neblina? Você viu a nuvem hoje?
Naquela tarde eu vi as duas e elas não eram diferentes como demonstravam ser.
Foi através delas que enxerguei esse emaranhado de conexões que existe em tudo e como me identificava assumindo umas, descartando outras, refazendo algumas.
E é por isso que resolvi fazer a escolha. Uma hora ou outra isso iria acontecer, eu sei.
Consigo ver isso perante os meus relâmpagos de consciência.
Eu sinto, às vezes como uma interferência, outras com clareza.
Talvez seja ainda, pedaços de uma outra conexão querendo ser refeita, religada, restabelecida, talvez.
Talvez quando eu puder dar a resposta a isso, não seja mais eu.
Posso ir embora a qualquer momento, isso está dentro da escolha.
É bem possível que quando eu tiver a resposta, a pergunta já não exista mais, é bem possível.
Você também está diante de um abismo que ao mesmo tempo lhe dá medo e uma imensa vontade de saltar. Espere a neblina passar e você verá.
Quem sabe podemos juntos reinventar algumas conexões? Ou mesmo desfazê-las.  Na verdade o objetivo é o que menos importa, se é que você me entende.
Mas venha logo, se esse é o meu momento, agora é o seu também.
Talvez tenha que me esperar um pouco, pode acontecer de me encontrar entre uma sessão e outra, coisa rápida, são apenas alguns eletrochoques.
A minha atual casa você sabe, tem o codinome: Hospício.
Foi para cá que me trouxeram, quando resolvi escolher.
Mas não se espante com o estado que me encontrar, não se deixe levar pelas aparências.
Afinal, faz um bom tempo que não nos vemos e depois daquela tarde, muitas coisas mudaram.
Se você conseguir observar bem, não estarei diferente das pessoas que andam pelas ruas, achando que seus olhos estão abertos.

Não, existe sim uma diferença: elas estão bem vestidas...




foto:http://br.olhares.com/caminhando_foto2495763.html

4 comentários:

PANKADA disse...

Eita. O que ta acontecendo? Mano, du caralho! Abraço

Lunna disse...

O que a gente descobre quando olha para si mesmo e enxerga o outro?

francys disse...

olhar para si é uma arte que poucos fazem,pois, há aqueles que preferem olhar o outro.Pois é muito mais facíl. Bjs.

Anônimo disse...

Querido André


Visitei o seu blog.
Parabéns pela sensibilidade das imagens e do que
voce escreve com amorosidade, gentilezas, e das entranhas do seu ser..

Sandra sherin