terça-feira, 15 de setembro de 2009

Dois idiomas a caminho de uma escrita



Faltava apenas duas semanas para minha viagem. Destino: Espanha. A tão sonhada volta. Um reencontro me esperava. Cinco anos de relação e um de distância. Saudades que apertavam o coração. Lembranças de momentos guardados em fotografia.
Desde o início sabíamos que nossas promessas seriam cumpridas. O sonho de compartilharmos algo juntos estava muito perto, exatamente há algumas horas. Foi válida tamanha paciência.
Aqui no Brasil, apenas algumas papeladas finais. Despedidas de amigos e alguns familiares, que não são muitos. Essa é a vantagem de ser uma pessoa mais reservada.
Vender algumas coisas e, claro, as malas. Mas para isso ainda havia tempo.
Precisava finalizar um último trabalho, afinal, uma graninha extra para viagem caia bem.
País novo, novos trabalhos, nova vida, relacionamento antigo, medo!
Nesta sexta-feira à noite, enquanto estava conferindo alguns documentos, o telefone tocou. Atendi. Algo aconteceu na minha percepção de espaço-tempo. Comecei a sentir um frio estranho que vinha do centro de minha barriga e que aos poucos começava a se espalhar para todo o corpo.
Sentei, pois não agüentava meu próprio peso.
Vejo a imagem de um avião decolando e eu no meio da pista em pé. Escuto ao longe uma voz dizendo meu nome, então sou puxado da pista para o sofá da minha sala com o telefone nas mãos.

- Papai sofreu um derrame, está em coma!

Desligo o telefone. Faço três ligações: Espanha, aeroporto e um táxi. No caminho do hospital sinto. Apenas sinto tudo. Tudo em dois idiomas.

foto: http://br.olhares.com/de_malas_e_bagagem_foto433601.html

3 comentários:

Lunna disse...

O que pode ser mais frustrante que o sopro de uma ilusão que se desfaz diante da realidade que chega sem mais delongas como se nos obrigasse a aceitar o inaceitável?
Deve ser estranha a sensação de que algo ficou pelo caminho, não é mesmo?

Francys Oliva disse...

É concordo com vc Lunna esta sensação nos envolve de um jeito que nem as palavras são válidas nestas horas.Mas o vazio que nos envolve é muito grande. Beijos.

JAIRO PEREIRA disse...

Pancadão!


Menino bom nas letrinhas!