terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

DILÚCULO





Nesse dilúculo que me observa de cima a baixo, esquento a bunda na grama fria.
Minha cabeça se perde em um vasto campo de memórias esquecidas
Daquelas que só aparecem quando o cansaço sem nome chega.
Flerto com essa vontade louca de ter uma vontade.
Arquivos em cenas de um nocaute chamado “todos” em um rosto chamado “eu”.
As placas indicam que tenho que saber o que no momento não estou sabendo.
São assim mesmo: palavras soltas. Eu não preciso das ligações e sim do silêncio entre elas.
Olho para lá e olho para cá. E sabe o que vejo?
Tudo. Tudo é a mesma coisa. Tudo...
Há tanto a se fazer e essa vontade louca de ter uma vontade não me deixa.
Essa alvorada não pede nada. Não questiona.
Ela só fica ali me observando de cima a baixo.
Apenas isso.
Como diz um amigo poeta: “Tudo o que quero é chegar ao começo”.
Há um ser que não sabe o que escrever, o que pensar, o que fazer.
(                                       ).
E a grama continua fria.
Queria um braço de água. Desses que tem lá no fundo do mato.
Tirar essa roupa que pesa e deixar esse vento que bate em meu rosto sacudir o corpo.
Pular e sentir o abraço forte do lago.
Lá sim, eu respiro.
Aqui, eu sufoco.
Ahhhh! Só em pensar sinto o cheiro das minhas águas.
É disso que preciso: um mergulho de volta as minhas fontes.



foto: André Auke
modelo: Mãe.