Éramos quatro amigos andando e conversando.
Foi quando o nego atravessou o meu caminho e me chamou de jeito peculiar.
Foi quando o nego atravessou o meu caminho e me chamou de jeito peculiar.
Foi quase uma benção, mas estava mais para um toque. Ele
sabia que eu iria revidar.
Nego, mandingueiro, me conhecia.
E assim foi, dei a resposta; uma meia lua de compasso.
Ele riu com aqueles dentes brancos como o seu chapeuzinho na
cabeça.
Esse nego todo vestido de preto, apenas os dentes, chapéu e
sapatos brancos.
Sorrindo me chamou para a vadiagem e todos os outros brancos
ao redor, não entendiam.
A briga daquele moleque com o preto-velho.
Eles brigavam sorrindo, eles brigavam brincando...
Pois não era briga não gente, era o jeito daquele nego/sábio,
passar o recado ao moleque.
E assim se sucedeu; na base das pernadas.
Foi rabo de arraia pra cá, esquiva pra lá e cabeçada acolá.
Aquele nego era Mestre, era preto-velho, era mandingueiro que
sabia samba.
E daquela forma, na roda veio me salvar.
Foi logo à frente, onde meus amigos continuavam a andar,
pois não pararam para ver eu e o nego jogar.
Foi lá na frente que escutei o grito. Parei de brincar.
Eram só alguns metros, muito sangue derramado no asfalto,
três corpos ao chão.
Dois mortos e um com a perna arrancada, coisa feia pra
mostrar.
Foi um fio de aço arrebentado que acabou com a vida, passou
mais rápido que uma queixada.
Eu era para estar ali no chão, mas o nego na capoeira fez eu
cessar.
O nego faceiro me parou. O mandingueiro me salvou.
Era um preto-velho, vestido de negro, chapéu e sorriso
branco.
Cadê ele, cadê esse nego?
Não sei, sumiu da mesma forma que
entrou; sorrindo.
Foi tudo um sonho, mas no sonho fiquei vivo.
Na minha memória ficou gravado seu rosto faceiro.
Reconheço-o, já o vi na vida.
Uma vez, lá na parede da Bahia, seu retrato em preto e
branco.
Era antepassado dos Mestres de hoje em dia.
Axé nego velho, tu me salvaste com a roda da vida.
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