segunda-feira, 5 de novembro de 2012

No que o beijo.

No que beijo a tua boca, descubro a púrpura do universo.
Vejo as nuvens em meus pensamentos.
Meus pensamentos são as nuvens.
O céu abre-se dentro de mim.

No que beijo a tua boca, descubro o sentido inverso.
O palpável está entre nós.
Você não é o que eu acho isso não importa.
Também sou algo que não sei.

No que beijo a tua boca, serei eu sem eu.
Sinta a essência que dividi e o sádico que seduz.
Sonâmbulo dentro da espaçonave.
Quero acordar na sua cama.

No que beijo a tua boca menina sinto a vida
Beba meu corpo em poucos goles.
Quando estou dentro de você seus olhos brilham.
Vejo a lua em mim concentrada.

No que beijo a tua boca, eu simplesmente beijo a tua boca.

sábado, 29 de setembro de 2012

Sótão.

Não estou muito afim de tudo.
Quero que a vontade cambaleie no ócio.
Danço esses questionamentos embalado por um jazz.
Essa espera é uma tia chata no sótão que não para de cantar Macarena.
Encontro quartos bonitos, mas todos ocupados.
Disseram que uma das portas está a minha espera... Disseram.
Mas essa tia do sótão não para de cantar.
Pelo menos não está dançando aqui perante aos meus olhos.
Esses que em momentos fazem -se a extensão dos meus braços.
Eu poderia meter os pés em um desses quartos, eu poderia.
Mas isso não é mais o meu gênero, pelo menos não agora.
Não preciso dessa violência primitiva, há tempos que optei pelo sutil e gostei dele.
Vou conviver com essa tia por mais algum tempo.
Esse é o preço que cobram. Não pagarei jogando milhos aos porcos.
Prefiro que os porcos se joguem ao milho, assim por livre e espontânea vontade.
A noite é fria, mas o sangue ainda, ainda é quente.
Vou continuar esperando para quando os meus braços voltarem a ser meus braços.
E meus olhos apenas meus olhos...
E esses foram os pensamentos dela, naquela noite de gosto de dama, quando saia vestida de ocasiões.
Ela ainda está andando pela rua de desencontros e olhando as faixas em seu corpo, por onde alguns pedestres passaram.
Em algum momento a musica do sótão vai parar.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Apenas uma xícara de café... E mais algumas palavras.

Hoje estou cambaleando.
Ando no meio fio a procura de equilíbrio.
Mas acho que em nossa ultima briga, ele resolveu dar um tempo mais longo.
As cotas de disfarces estão pequenas.
Não sei por quanto tempo elas irão existir e nem sei mesmo se quero que existam.
As filosofias não estão mais servindo ou o meu numero de hipocrisias aumentou ou as filosofias que ficaram pequenas.
Nem neste ultimo refugio que é a escrita, nem aqui sinto o minimo de alivio.
Gostaria de ser verdadeiro, mas sinto muito, perdi as esperanças.
Gostaria de lhe pedir um abraço.
Gostaria de lhe pedir para ficar aqui sem falar nada, apenas ficar. 
Gostaria de dizer que preciso do seu calor.
Gostaria de dizer que não quero conversas, que quero o nosso silêncio (ele é a unica coisa que ainda me inspira verdade).
Mas não sei...
O caminho que tanto trilhei já não me serve mais.
Quem sabe agora sem horizontes alguma mudança aconteça.
As palavras estão sumindo.
Espaços de nevoas ocupam lugares em minha mente.
Formam um desenho que lembra algo como uma partitura musical.
As palavras estão sumindo, estão sendo substituídas por vácuos.
A respiração se torna mais interessante.
A caneta para.
A folha cai...

Obs. Mas pelo menos eu tive um espanto. Há tempos que eu não tinha. 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

...isso pode ser sério

Já há tempos sinto que não envelheço.
A idade me acompanha, mas esse estado maroto é continuo.
E não tenho nenhum sentimento de que isso mudará.
Pelo contrario, cada vez tenho a sensação que é para sempre. 
E nem penso em lutar, pois no momento isso me satisfaz. 
Seja lá o que isso significa.
É claro que feições mudarão, não é disso que falo.
Mas não consigo deixar de olhar para o mundo como um maroto.
Acho que nunca serei um homem da sociedade. E isso pode ser sério.
Acho que sempre serei isso, esse. Menino.
E isso pode ser sério.
Agora, tem algo que não acho, tenho minhas máximas certezas.
Algo que nunca serei é ser um ser sério.

E isso pode ser sério.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Um sonho suspenso.

Um reencontro casual.
Caminhamos sem palavras em uma ponte que fica em qualquer lugar.
Meu silêncio quer dizer algo e o seu também.
Sorrisos de canto de boca. Entre os passos nossas mãos se atraem.
Sabemos o que nossos olhos falam. É isso o que queremos.
(pausa).
Sua boca sente o impulso do meu desejo. Um beijo sagaz, suspenso no ar e apertado.
Muda-se o tempo, muda-se o espaço.
Estamos em um quarto.
Uma dança.
 Meu corpo e o seu decifrando nossos idiomas.
Palavras são sussurradas, o verbo é lingua, sílabas suor, ponto e reticências.
Estou dentro de voce e voce me eleva.
Contamos nossa história de forma unica.
Seu gosto em minha boca, meu cheiro em sua pele.
Um sonho suspenso.
Nas janelas do inconsciente.


quinta-feira, 10 de maio de 2012

um poema chega assim



Um poema chega assim; meio sorrateiro não querendo nada, mas dizendo muito...
Empurrando pensamentos, as vezes por dentro, as vezes por fora, abrindo espaços sem forçar nada.
Eh! Ele tem esse jeito malandro que sabe chegar sem fazer barulho e quando dou por mim já danço a melodia que ele bem entender.
Lutar? Não posso, ou melhor, não saberia... Ele vem por águas que desconheço.
Eu até sei alguns dos seus caminhos: é um olhar, um silêncio, um pulsar mais forte, respiração ali naquele estado, uma simples intenção ou às vezes até um nada.
E no fim. Eu agradeço, pois por horas é minha oração, em momentos salvação, por muitas vezes Mestre, nunca deixou de ser amigo, quantas vezes me aliviou o coração (perdi a conta). Estranhamente me confundo com ele, mas sempre sabendo que mesmo ali comigo, ele serve gentilmente a todos. Suas vias muitas: visceral, direto, suave, faceiro, disfarçado, simbólico, feminino, masculino, bobo, careta, sensual... Mas mesmo brincando tanto com esse teatro de facetas, jamais deixou de ser honesto com sua essência...
Talvez seja por isso que ele venha tanto a me procurar.
Por vezes me beija, por vezes me abraça, por vezes me empurra.  Mas sempre ali dizendo: "Não há nada que já não saiba”.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012



Quando acordo faço do dia um arco.
Me envergo em seu peito.
Sou esse espaço que vacila.
Entre a flecha e o alvo.
No final da tarde sacudo a poeira do cansaço.
E guardo em uma sacola bonita.

Deixo-a atrás da porta, para quem sabe um dia...
Voltar hibernar na história ali, esquecida.

Mas de noite, bem de noitinha, lá nos meus sonhos.
Volta a ser aquele que na sacola amarra as fitinhas.
E deixo nelas, nas histórias, uma cor bem definida.


foto: André Auke