segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Poeta e a guerra





















O poeta foi à guerra.
Mas ele não sabia usar as armas.
Sua vida, feita de palavras vinda do coração, e sua intuição, ali não serviam.
O poeta foi à guerra.
E sua alma doía.
Ele era o único que via o que era tão claro.
Mas ele não sabia usar as armas.
O que faz alguns homens serem tão diferentes?
A crueldade é tão irônica quando se há permissão.
A guerra é a permissão dada à crueldade.
O poeta foi à guerra.
E lá encontrou as ações de homens de boa fé.
Boa fé em seus ideais.
Havia bandeiras e elas eram dogmas.
As bandeiras ditavam as regras.
O poeta foi à guerra e viu o que era tão claro.
Iguais, com os olhos da alma vendados. Eram as cores de sua pátria.
E ele não sabia usar as armas.
O corpo do poeta doía por não entender que na guerra, o que importava era a soma de corpos.
Suas palavras, vindas do coração, ali não serviam.
Mas, foi lá na guerra que o poeta encontrou o que por toda sua vida declamou em versos.
Ele não sabia usar as armas.
E sorriu pela sua ignorância.
E suas palavras encontraram o que tanto procuravam.
O poeta foi à guerra. E lá ele chorou.
Chorou a tristeza e o êxtase.
Chorou pelo amor encontrado.
Lá estava enrolado numa bandeira.
Mas seu amor tinha uma cor diferente.
E isso os homens de boa fé não perdoavam.
O poeta foi à guerra.
Mas ele não sabia usar as armas.





foto: André Auke