terça-feira, 4 de outubro de 2011

Epístola



Estou próximo do limite.
Alguma mudança é necessária, já sinto isso há um tempo.
Parece que as coisas vão se afunilando.
Sinto a coragem trabalhando na reserva.

Será que consigo?  Será que posso?
Tantas coisas acontecendo. Qual é o real sentido?
Estou aqui, mas por vezes me sinto preso, ou melhor, me prendo.
É inadmissível estacionar nesse mundo onde o fluxo é interminável.

Veja as mensagens. Estou vendo.

Emociono-me com as atitudes de humildade assistidas do meu conforto.
Por que não estou lá se algo dentro de mim vibra?
Muitas estações se passaram e com elas o anseio de estar cada vez mais calado.
Estou ficando cansado das palavras. Ou elas de mim.


Quero um ato, um apenas e nada mais.
Diga que você também quer... Caminhe comigo.
Talvez o tempo de peregrinar sozinho já tenha passado.
Eu sei que existe mais...

Veja as mensagens. Estou vendo.

Não serei privado da vontade.
Essa roupa já está pequena para mim.
Tenho medo que o salto seja muito alto.
Já sinto isso há um tempo.

Veja as mensagens...



foto: André Auke
modelo: Jéssica Fogaça.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Entre as pausas



Quero compor meus espaços em poemas.
Minha vida em musicas e minhas palavras em sinônimos de silêncios.
É assim que minha alma estará em descanso, pois quando escrevo não são as frases que importam, mas sim as pausas entre elas.
É nesses espaços que eu moro.
Venha passar essa noite comigo.
Descubra meu nome nos lençóis.
Não sou escritor, sou apenas um poeta e por isso não encontrará nada em minha fala.
Leia a poesia dos meus olhos e sinta a escrita dos meus toques.
Acorde comigo.
Caminhe comigo entre as pausas.
Essa tarde está perfeita para um poema.
Eu lhe empresto meus chinelos e divido minha caneca.
Há muitos, muitos espaços a serem compostos.


foto: André Auke

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Poeta e a guerra





















O poeta foi à guerra.
Mas ele não sabia usar as armas.
Sua vida, feita de palavras vinda do coração, e sua intuição, ali não serviam.
O poeta foi à guerra.
E sua alma doía.
Ele era o único que via o que era tão claro.
Mas ele não sabia usar as armas.
O que faz alguns homens serem tão diferentes?
A crueldade é tão irônica quando se há permissão.
A guerra é a permissão dada à crueldade.
O poeta foi à guerra.
E lá encontrou as ações de homens de boa fé.
Boa fé em seus ideais.
Havia bandeiras e elas eram dogmas.
As bandeiras ditavam as regras.
O poeta foi à guerra e viu o que era tão claro.
Iguais, com os olhos da alma vendados. Eram as cores de sua pátria.
E ele não sabia usar as armas.
O corpo do poeta doía por não entender que na guerra, o que importava era a soma de corpos.
Suas palavras, vindas do coração, ali não serviam.
Mas, foi lá na guerra que o poeta encontrou o que por toda sua vida declamou em versos.
Ele não sabia usar as armas.
E sorriu pela sua ignorância.
E suas palavras encontraram o que tanto procuravam.
O poeta foi à guerra. E lá ele chorou.
Chorou a tristeza e o êxtase.
Chorou pelo amor encontrado.
Lá estava enrolado numa bandeira.
Mas seu amor tinha uma cor diferente.
E isso os homens de boa fé não perdoavam.
O poeta foi à guerra.
Mas ele não sabia usar as armas.





foto: André Auke

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Auto Retrato


Eu quero o que você não pode dar – Saudades minhas.
Então não venha oferecer migalhas do nunca – Minha Loucura.
Não faça disso a nossa humilhação – Minha integridade.
O jogo acaba aqui – Minha vida.

Um pássaro voa pela janela – Meu suspiro.
É isso que sempre quis dizer– Meu foda-se.
Voa vai. Voa com – Meu olhar.
Abra com as chaves o que nunca foi fechado – Meu ditado.

Sempre compliquei, mas isso foi antes – Fica na sua.
A vontade de nunca dizer coisas certas – Sua boca.
A palavra aqui é fato irônico – Sua brincadeira.
Querendo disfarçar seu lado triste – Sua mania.

Agora tire a roupa e fique assim, nua – Minha obsessão.
Sem as vestes não há mentiras – Tua virtude.
Quero no beijo uma verdade crua – Sua.
E o que restar, sobras de poesias – Minha.


foto: André Auke.
modelo: André Auke.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

No Mundo Incerto



Existe a busca de certezas, mas o sentimento é de perdido.
Ansiar uma direção, mas ela não aparece.
O momento é confuso, horas nebulosas. Não há respostas.
Aventurar-se na esperança, essa que aparece e desaparece, com a mesma facilidade do mágico que ilude o espectador.
Na fé, reduto de um canto do meu inconsciente, cambaleio para lá e para cá.
Não saber o que fazer.
Tudo que é fato tentado, reverbera no ato da ação: espera.
Sensação: tortura, sem datas, sem avisos.
Acorrentado na busca pelo sinal, com a desconfiança de mera ilusão, nascida da ansiedade e criada pelo desespero.
O conhecimento de que nem tudo que reluz é ouro gera mais perigo do que sabedoria.
O pensamento dança com a mente: a vontade de conhecer o não palpável.
A música que toca é a de não cumprir o que tem que ser feito, mesmo não sabendo o que é esse fazer.
A incessante busca olha para o não buscar e ambos apresentam a mesma situação: (indefinida).
Estar no meio e querer gritar: Stop!
Mas o sentido não muda.
O grito interno é de espera.
Forças dissolvem como água escorrendo pelas mãos.
O que fazer? Não sei. Não fazer? Também não sei.
O dilema de Hamlet apresenta-se: Ser ou não ser, eis a questão.
E o que adiantaria ser um Hamlet?
Questionar culpas, covardias, loucuras, amor, talvez.
E no fim, a morte pelo duelo com sua própria crise.
Ok! Superficial perante  um clássico, mas é o que posso no momento.
Sentir-se em um caminho e não saber para onde seguir?
Qualquer migalha de direção transpira alivio.
A vontade resumi-se: me mostre uma abertura.
O corpo recebe na velocidade do mundo todas as cobranças desnecessárias.
Mas que são importantes perante uma sociedade muitas vezes, (vazia).
É um choque entre sentimentos e pensamentos.
O mundo incerto está à espera, não se sabe por que e nem para quê.
No momento, até uma gota de lucidez não saberá que direção seguir.


foto: André Auke.
modelo: Jéssica Fogaça.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Nada



Gosto da tranqüilidade que a alma me traz em alguns momentos.
Sinto o mundo passar em suas variações de velocidades.
E eu aqui, sendo mais nada. E isso é bom.
Nossa! Como é bom.

foto: André Auke

segunda-feira, 21 de março de 2011



Há ventos dentro de mim que sopram.
Sou levado para lugares nunca combinados.
Assim ao acaso, caso isso exista.
Gosto, porque sinto que não penso.
Eu Sou assim até o momento que surgi o pensamento: para onde vou?  
Neste instante os ventos cessam.
Volto a ser normal.
Não Sou mais. Pelos menos até os ventos voltarem.
Eles não combinam um com outro, por isso quando um está o outro é ausente.
Quando um chega o outro cede lugar.
Sinto que sou menos sem os ventos.
Sinto que sou menos ainda com os pensamentos.

foto: André Auke
modelos: Tabatta e Gui.




segunda-feira, 7 de março de 2011

Metade de uma lágrima


Á partir de hoje serei um homem de meias lágrimas.
No meu rosto elas não serão mais inteiras.
Não tome isso como uma incompetência de sentimentos, e sim um amor consciente.
Metades delas serão para o mundo e a outra para mim.
Dedico minhas meias lágrimas para dentro, onde realmente tudo acontece.
Dedico a outra metade ao mundo, onde tudo é reflexo.
Ao contrário do que pareça, não há seca.
Em breve inundarei tudo. Eu e o mundo.
E o que hoje são metades um dia será uno.

foto: André Auke


terça-feira, 1 de março de 2011

Pólvora



Estou à procura de um encontro no qual a minha busca diga: fim. 

Sei dos momentos de outrora e por isso não quero repetições.

Isso só aumentaria um pouco mais as minhas ilusões, essas que com tanto custo construí. 

Anos e anos de trabalho afinco diante uma estrutura morta.

Aqui jaz um aquele que todos queriam que fosse outra coisa.


foto: André Auke

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

DILÚCULO





Nesse dilúculo que me observa de cima a baixo, esquento a bunda na grama fria.
Minha cabeça se perde em um vasto campo de memórias esquecidas
Daquelas que só aparecem quando o cansaço sem nome chega.
Flerto com essa vontade louca de ter uma vontade.
Arquivos em cenas de um nocaute chamado “todos” em um rosto chamado “eu”.
As placas indicam que tenho que saber o que no momento não estou sabendo.
São assim mesmo: palavras soltas. Eu não preciso das ligações e sim do silêncio entre elas.
Olho para lá e olho para cá. E sabe o que vejo?
Tudo. Tudo é a mesma coisa. Tudo...
Há tanto a se fazer e essa vontade louca de ter uma vontade não me deixa.
Essa alvorada não pede nada. Não questiona.
Ela só fica ali me observando de cima a baixo.
Apenas isso.
Como diz um amigo poeta: “Tudo o que quero é chegar ao começo”.
Há um ser que não sabe o que escrever, o que pensar, o que fazer.
(                                       ).
E a grama continua fria.
Queria um braço de água. Desses que tem lá no fundo do mato.
Tirar essa roupa que pesa e deixar esse vento que bate em meu rosto sacudir o corpo.
Pular e sentir o abraço forte do lago.
Lá sim, eu respiro.
Aqui, eu sufoco.
Ahhhh! Só em pensar sinto o cheiro das minhas águas.
É disso que preciso: um mergulho de volta as minhas fontes.



foto: André Auke
modelo: Mãe.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

INSANIDADE

Fiz do meu corpo a sua morada
E assim fiz porque queria
Tinha essa necessidade absoluta
De loucura não explícita

Eu me tornei seu amante por necessidade

Não foi uma escolha e sim por pura heresia

Era algo como um viciado em heroína:
Após a primeira picada uma órbita se abria

 

Não me pergunte se voltaria
Não cabe a mim responder coisas que não me instigam

Sou viciado por opção e escravo por destino

Após esse momento serei julgado novamente


Mas a leis normais ou divinas não me excitam

Tenho sempre minha companheira, fiel, abusiva e defensiva:

A MINHA INSANIDADE.
Foi ela que te levou pra cama nas noites de Cabiria.




Foto: André Auke.
Modelo: Jéssica Fogaça.