Estou em luto comigo.
Morre aquilo que não quero mais,
O que não me pertence.
Coisas que não eram para ser, mas por algum motivo estacionaram-se em mim.
Em luto declarado, queimo e espero as cinzas.
Essas as quais com um sopro digo:
- Voltem de onde vieram, sejam esterco para quem queira.
Mas antes da morte faço meu crepúsculo em ordem inversa.
Ando pelos cantos como um marginal.
Meus gritos e sussurros são escutados apenas por mim.
Nem os outros marginais têm ouvidos para isso.
Sou a marginalidade escondida dentro da própria marginalidade.
Existem outros, pois nossas vozes são feitas da mesma vontade.
Mas ainda estamos fadados ao anonimato honrado de um forasteiro.
Cada um em seu beco, ou estradas que sejam.
Às vezes nos olhamos, nos compreendemos e ficamos nisso, apenas isso.
Meu protesto é interno.
Meu luto é comigo.
E agora estou sentado no meu beco velando tudo o que tem que ser queimado.
Vou inspirar toda a fumaça.
E ela ecoara em todos os cantos, caminhos e esquinas.
Mas somente os que estão fora da estrada vão ouvir.
E a esses faço o convite:
Venham comigo velar:
“O Ser à Margem”.
foto: André Auke.
modelo: Jairo Pereira
modelo: Jairo Pereira