fotos/edição: André Auke
musica: Allemande - Bach (Victor Yolan)
Quando estou aqui pensando tudo passa na minha pequena cabeça.
Quantas coisas a fazer, quantas coisas a deixar de fazer; vontades, desejos, realizações.
Para que serve tudo isso? Se quando as realizo (aquelas que são possíveis) a satisfação é uma coisa tão frágil que costuma se quebrar ao primeiro perder do olhar.
É para isso que servem os sonhos? Para correr atrás deles, realizá-los e depois aguardar o vazio, a sensação de voltar ao início sempre? Só mudam as caras.
Mas o mundo aí fora segue assim: a multidão faz isso, vende isso, compra isso, assiste isso. Será que existe alguma verdade nisso? Será?
Eu faço parte da multidão, então tenho que seguí-la, mesmo me achando deslocado dela.
O caminho solitário é mesmo sozinho?
Se a vida quer que eu a siga assim, por que ela me permitiu encontrar uma lacuna em tudo isso? Por que, hein? Por quê?
Aceitar seria o caminho; pelo menos é assim que dizem os mestres.
Mas aceitar o quê? Aceitar o filho da puta que não aceita o meu direito de ser do jeito que sou?
Como seria bom se cada um tomasse conta da sua própria vida! Talvez seja isso o paraíso, hahahahaha.
É, às vezes o caminho da espiritualidade deveria ser mais concreto do que efêmero.
Com Alberto Caeiro aprendo que a diferença está na natureza e não nas cousas. Com meu amigo Quintana, a saída é amar o cotidiano. Já com Clarice, não tem jeito, a coisa é triste mesmo, mas com muita poesia.
Ah, é isso aí. Precisa de um pouco de poesia para sentir verdadeiramente essa vida.
Às vezes me pergunto: Será que o melhor é viver a vida sem razão nenhuma e seguir com sentimentos descontrolados, se enfiando até o talo em tudo que aparece, mas pagar o preço, às vezes caro de sangrar, se machucar grave, mas pelo menos estar íntegro, nem que seja em uma experiência de merda? -
E olha que já vi muitas pessoas fazendo isso. Quantos artistas! Será que isso os deixa mais artistas do que os outros? Será?
A outra opção seria assistir a tudo isso, como uma imagem estática, neutra,
deixando as coisas apenas passarem, sem intrometer, sem interromper. O tal “observar”.
Mas com o preço que às vezes... pode dar aquela sensação de não estar vivenciando nada, sabe?
Parece que o ser humano está muito acostumado com a movimentação, com o opinar, com o julgar, com se enfiar, etc, etc, etc. E o não movimento parece ser uma coisa de outro mundo.
Não me venha com a tal historinha do caminho do meio, que eu vou mandar você tomar no cú. Pois, quando o calo aperta, a única coisa que passa na mente é fechar os punhos e dar um belo soco naquele cara chamado Deus, ou na primeira pessoa que te olhar torto, pois esse é a semelhança daquele. E o primeiro, é difícil de encontrar.
Quantas historinhas, quantas! Você poderia parar de me contar histórias, por favor?! Que eu não agüento mais! Já basta eu e a minha cabeça!
Você está certo em dizer que eu só trouxe questionamentos, mas de qualquer forma, eu não tenho nenhuma resposta.
Para a minha imagem não ficar de um arrogante, vamos fazer um combinado? Tu ficas com a tua verdade e eu com a minha. Assim quem sabe não salvamos o mundo. Mas quem foi mesmo o infeliz que enfiou na minha cabeça que o mundo está querendo ser salvo? Quem?