terça-feira, 5 de maio de 2015

A maré vai, a maré vem...



Sou homem livre.
Onde me prendem, eu não fico.
Sei receber ordens e respeito hierarquias, foi assim que aprendi na educação de família.
Mas também sou pessoa de pensamento e ação nos sentimentos.
Quando for preciso, minha opinião eu digo.
Saber calar é sabedoria vivida.
Estou na escola, mas não tenho diploma, papel tem outro oficio.
Eu vim da mandinga, minha segunda educação.
É na vadiagem que aprendi a dar valor ao mundão.
É dela, da capoeira que falo.
Não o jogar de pernas apenas, tem malandragem, e da boa.
Já me salvou e não foi pouco das espreitadas na vida.
Quem não a conhece só vê, não enxerga o invisível.
Não falo de pulos, falo de mistério, do escondido.
Foi ela que me ensinou andar na vida, de peito aberto, cabeça erguida, no meio da rua, pois calçada tem esquina.
Balançando os braços e de mãos livres, sempre pronto para um abraço ou cumprimento amigo.
Ela não ensina briga, vem é de defesa, de libertação.
É de dentro para fora que acontece a ação.
Mas não vai se enganando, precisando tem cabeçada e rasteira, nem precisa de mais pra fazer o peão comer poeira.
E embaixo, lá no chão, o capoeira sai no rolê e da aú, faz rotação, movimento natural da esfera da terra.
Nas ladainhas é que se aprende muita coisa, que Dr. Diplomado não sabe não.
Por isso repito: Sou homem livre, sei obedecer, mas sou camarada de pensar e agir de coração.
Quer prosear? Vem com argumento, papo bom nunca dispenso.
O mestre ensinou – Respeito é doce do bom e não quebra os dentes.
Digo: Quem não a conhece, não enxerga o invisível.
É ai que mora o perigo, desconhecer o que não é visto e sim sentido.
A capoeira ensina tudo que tem na vida.
Tem hora que está torta e tem hora que apruma.
E uma coisa é certa, em algum momento o camarada escorrega, e aí com o chão se acerta.
E não é exatamente no chão, que o corpo termina sua estadia?
Quando o berimbau do peito desafina?
Eu vou é brincar, jogar, orar e cantar até o meu pandeiro cessar.
Até lá, tudo é pura vadiação.
Vim pra cultivar amizades, não sou de briga, perda de tempo e energia.
Hoje a luta é na mente, nos pensamentos, é isso que gera ação defensiva.
Aí sim, muita esquiva e cocorinha se fazem necessário, mas estou sempre amparado, tenho companhia.
Como diz a musica: Não mexe comigo, que eu não ando sozinho.
Não é corpo fechado de macumba, é confiança.
Amigos sempre são bons, tanto aqui como acolá.
Lembre-se; é só enxergar o invisível.
A maré vai, a maré vem e a praia fica limpa.
Está na roda, está na vida.
Bora jogar, bora brincar e se a humildade não vem de berço, uma hora ou outra na roda o camará
aprende.
E se escorregar, dá um sorriso e a gente dá a volta no mundo.
Depois no pé do berimbau começamos tudo de novo.
Somos todos livres, nossas amarras são os pré-conceitos.
Mas, pra isso temos a benção e a meia lua de compasso, golpes certeiros pra fazer justiça.
A ginga é tua e única.
É assim que se movimenta na vida, na roda.
Na roda da vida.
A maré vai, a maré vem...